( 2º EXCERTO )
Uma noite, Maria acorda em pânico, com uma hemorragia. Grita, confrangida, por socorro. Toda a gente acorda. Aparecem duas freiras que, ao perceberem o motivo do seu desespero, a insultam, chamando-lhe ignorante e desavergonhada. Retiram-se, vociferando pelo facto de terem interrompido o seu celestial sono por causa de uma idiota aos gritos.
Laurinda levanta-se silenciosamente, aproxima-se de Maria e explica-lhe com pormenores o que está a acontecer.
– Como vês não é nada de mal, todas as raparigas passam por isso na tua idade. – diz ela com ar de entendida no assunto.
Maria fica mais calma, mas ainda um pouco confusa, apesar da informação detalhada de Laurinda
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Como é possível que as freiras, que também são mulheres, não considerem seu dever esclarecer e orientar as jovens nesta fase de transformação dos seus corpos? O que é que existe naquelas cabeças além de exânimes teias de aranha? Ou será que Deus as eximiu desse fenómeno fisiológico? É inexplicável que num Orfanato, que tem como objectivo acolher, educar e ajudar crianças no seu progresso físico e intelectual, existam pessoas que ajam de forma tão reprovável.
Se Deus existe, como permite que mulheres, que passam todo o tempo a rezar de terço nas mãos, tenham comportamentos de tanta frieza, tratando as infelizes raparigas com gratuita severidade e estúpida desumanidade?
Se Deus existe, como permite que se abandonem bebés nas soleiras das portas, ignorando o seu destino?
José Eduardo Taveira
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