As muitas histórias que correm sobre as figuras que passaram pela nossa Assembleia da República, simplesmente, assustam-me.
Lembro-me de José Saramago dizer: “Sou português em primeiro lugar. Depois, Ibérico. Quanto a Europeu, só se me apetecer!”
O evidente orgulho da nacionalidade é bem patente nesta frase. E por estes princípios e com igual orgulho eu tenho pautado a minha simples e modesta vida. Sou português, por nascimento, por orgulho e por respeito pela cultura do meu País. Sou Ibérico pela minha costela espanhola herdada de um bisavô, e de igual modo pelo respeito que a cultura da Espanha me merece. Pela lucidez de homens como Cervantes, pelos escritores, pelos génios da pintura, pela música, enfim, pela “garra” da alma espanhola. Mas, quanto a português, por estes últimos tempos, o meu fervor anda muito por baixo. Quando as figuras públicas surgem-nos como gente faltosa, sem escrúpulos, acusados pela prática de crimes de sangue, assassínios, extorsão, abuso de confiança, o nosso patriotismo baixa o nível. Afinal, que País é este, onde advogados sem história, ex-deputados, compram casas de milhões, movimentam-se no mundo sórdido dos assassinos, aparecem à luz do Sol com roupagem de bandidos, e quando Conselheiros de Estado simplesmente desaparecem, e outros são despesistas inaceitáveis num País onde as pessoas são espoliadas do sagrado direito de comer, e de todos os seus legítimos direitos de cidadania, como a assistência na doença, como a justiça, como o direito ao trabalho, como o direito a terem de seu o que conquistaram ao longo de anos e anos de árdua luta? Que País temos, que República conseguimos construir? O que somos afinal, no entender dos nossos governantes, povo ou gente que serve apenas para pagar impostos, imigrar como sempre sucedeu ao longo dos séculos, e enviar dinheiro para manter de pé este Estado hipócrita, faltoso, imoral, anti-patriótico, assente na legitimidade de uma Assembleia de ricos e tontos senhores, que se reformam ao fim de escassos anos de serviço, (dizem eles) público? E porque ficam sempre sem resposta as criticas e as dúvidas, os anseios e os “gritos de alma” dos poucos portugueses que teimam em manter firme a coragem de denunciar, alto e bom som, a sordidez em que o País mergulhou? Portugal trabalha hoje para pagar juros de juros de juros e mais juros. E pagar como? Com que dinheiro? O das reformas? O dos subsídios? Onde pára o sacrossanto exército equipado com submarinos que combatem por contacto físico, aviões que bombardeiam com a urina dos pilotos, um exército que está em estado de prontidão para travar as guerras que outros geram e abandona às mãos dos carrascos o País a que pertence? É possível descer mais baixo? No meu entender penso que não. Descemos ao fundo de tudo o que a escala da degradação humana permite. Se a nossa grandeza está em sermos insignificantes, aí sim, somos terra de gigantes.
Portugal é terra de gente boa. Somos hospitaleiros, acolhedores, pacíficos, ordeiros, mas, acima de tudo, somos ingénuos e crédulos. Este “calcanhar de Aquiles” é o nosso paradoxo. No nosso território acolheram-se pessoas que vieram por bem. Acolheram-se na beleza, na pacatez e na segurança dos nossos campos. Trouxeram divisas, outras ideias, outro sentir. Vieram por bem e por cá ficaram. Hoje o que temos para lhes dar? Insegurança. Assaltos. Diariamente assaltam-se ourivesarias, espancam-se pessoas, rouba-se, na impunidade gerada num País onde os governantes discutem de forma interminável o deficit que só eles, e apenas eles criaram. Nas televisões são intermináveis as filas de economistas de ocasião a falarem sempre do mesmo, e da mesma maneira, e são sempre os mesmos. Não variam, são como os políticos que se oferecem para compra nas eleições. Amigos: escolham entre este que é péssimo e aquele que sendo mau nos cospe menos na cara. Vá, rápido, tomem uma decisão, mas depois não se queixem. Foram vocês que escolheram. E, olhem, é para ficarem quatro anos, nunca menos; sabem, é preciso tempo para se verem resultados das políticas. Por tudo isto eu pergunto de novo: onde pára o exército, e como pensa? Se estão bem nós podemos estar mal. É um problema meramente civil. Se estão mal nós não podemos estar bem. É um problema nacional!
Falemos agora da Europa. É esta a Europa que queremos? A Europa dos meus anseios passa por uma união de Estados, porque não? Federados; um governo central, um exército comum, uma politica internacional conjunta, direitos de cidadania iguais, salários equivalentes entre todos os Estados; pessoas felizes, prósperas; gente com orgulho não e somente das velhinhas nacionalidades, mas das diferenças, e da grande cidadania Europeia. Gente de Facto Igual, nos credos, nas culturas, nas tradições, no amor pela liberdade. Gente de Bem. Nesta Europa dos meus sonhos cabe, mais do que um mundo de valores; um mundo de pátrias. E também um mundo de Regiões, umas mais ricas, outras mais pobres, mas todas iguais nos direitos pela justiça, no direito à vida e ao Bom Nome. O que temos? Uma Europa de Faz de Conta, dos interesses hipócritas, das Raças Superiores, (que outrora ceifaram dezenas de milhões de vidas), que se pavoneiam num mundo de faz de conta, prontas para repetirem as taras de ontem, espalharem pelo mundo tortura e morte.
NÃO QUERO ESTA EUROPA! Nem que tenha de comer pedras, beijar cobras e fazer vénias ao demónio! Não! Quero ser Homem Livre. Homem sem Mercados. Homem com Dignidade e com Decência! Homem com Pátria, mas Homem de Outro Mundo!
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Muito bom, … mas o que podemos fazer: discordar! É pouco, porque já senti na pele, por muito que escreva, estou tão longe da verdade, para dar lugar aos mentirosos, que tem o direito a serem obrigatoriamente ouvidos.
O.ne.
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Amigo e colega destas andanças da escrita. Eu sei. E sei o que passei, (as paças do Algarve), por falar no tempo dificil de antigamente. è como pregar no deserto, a gritar aos camelos! Mas, não se esqueça, enquanto escritores, (e é isso que somos, mesmo que os outros não queiram) temos sobre os ombros o peso dos homens que nunca se calaram, (e tantos e tão bons que eles foram), e isso dá-nos a responsabilidade de nos erguermos contra estes males do nosso tempo, mesmo que tal não nos leve para bom e seguro porto. Um abraço, até sempre.
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