Tempos atrás vi no National Geografic um excelente documentário sobre a religião na Índia. Simplesmente fascinante e, em simultâneo, repulsivo.
No rio Ganges os indianos fazem um pouco de tudo. Depositam as cinzas dos defuntos, lavam-se para se purificarem, jogam carcaças de animais, também corpos humanos, possivelmente ingerem água, purificam os filhos, jogam flores para pedir o bom augúrio das divindades. O Ganges é o seu muito querido rio sagrado, e quem gostar do Ganges é porque ama a Índia.
Na Índia existem os homens Santos, com hábitos que, (para nós), se podem no mínimo considerar de bizarros. Nas festividades aparecem nus, de corpos cobertos de terra, cabelos e barbas desgrenhados, e no meio do colorido dos festejos distribuem bênçãos pelos crentes. Faz parte do ritual as fiéis tocarem no sexo dos seus homens Santos, ou eles o sacudirem na direcção dos abençoados. São hábitos, tradições, costumes; simplesmente isso. Aceito pura e simplesmente esta cultura assim como aceito todas as outras. O mundo é grande e as culturas das outras Civilizações são tão importantes como o são as nossas, no Ocidente. Apenas não quero adquirir semelhantes hábitos!
No entanto, sendo a Índia uma economia emergente, e sabendo eu o que sei sobre expansão de religiões e de costumes, fico um tanto preocupado.
Nós expandimos a Fé e o Império pelos quatro cantos do mundo. Até há quem diga que se deve aos portugueses essa coisa, (para mim malfadada), a que hoje se chama globalização. E para expandir a Fé e o Império foram precisos meios; humanos, económicos, científicos e militares. Em particular a ultima palavra em tecnologia de armamento.
No plano humano não dispúnhamos de gente em abundância. Éramos poucos e mal alimentados. Logo, os nossos recursos humanos eram insuficientes, e se nunca nos faltou gente para as chamadas descobertas isso é um favor que a fome nos fez.
Dinheiro, não muito, concentrado nas mãos da nobreza, da burguesia, do rei e do clero, daí o ser acertado dizer-se que a expansão marítima foi um desígnio nacional. No plano cientifico também, graças aos templários e aos judeus, Portugal teve, (quanto a mim), a sua cota parte de grandeza, em particular nas ciências náuticas.
Mas foi na tecnologia militar essencialmente que assentou o êxito da expansão. Bons canhões fazem desaparecer a bravura dos povos. Ficam submissos e mansos. Tornam-se gentis e corteses. E assim a nossa Fé universalizou-se, mais pela via da força do que pela da persuasão. Fomos grandes qb para a nossa condição cultural e à medida da nossa dimensão territorial.
Portugal atingiu a Quimera do Império. Somou riquezas e cresceu. Sonhou, mas teve a desdita de acordar nas nuvens e de sofrer o trambolhão da verdade. Fez queda livre e acordou estatelado na terrinha pátria no meio de um monte de urtigas. É que os povos com futuro são os que trabalham e estudam. Para se ser gente é preciso gostar de ter conhecimento, ansiar saber.
Hoje, continuando a não dispor de recursos humanos suficientes, com uma juventude vitima eterna dos desmandos do poder arvorado em democracia, uma juventude que apenas julga que sabe, que não se submete a exames, que não lê, (porque não tem dinheiro para livros, estimulo e hábitos), uma juventude privada do sagrado direito de voar por si, que vive e morre em casa dos pais, uma juventude que tem mais de escravos do que de mulheres e homens livres, agarrada a um País falhado e falido, improdutivo, totalmente dependente das esmolas e boas vontades de uma Europa governada por sádicos, uma terra sem ciência e sem exército, eu temo que tenha chegado a hora de sermos nós os aculturados, e, sinceramente, (mesmo não sendo crente), não me vejo a orar a outros deuses que não sejam os deste Continente. É que as Civilizações não se perdoam umas às outras, antes se submetem ou não se submetem. Desta vez somos nós que esperamos pelas lições de Confúcio, que espreitamos a oportunidade de adorar os deuses da Índia, que aguardamos a vinda dos Homens – Santos, (desde que nos tragam dinheiro), que sonhamos com os banhos no Ganges, desde que daí nos advenha o milagre da baixa de impostos. Somos nós os vencidos e eles os vencedores. E eles são muitos. São centenas e centenas de milhões, e não chegam (como nós, nos tempos idos), mais em busca das riquezas do subsolo para cunhar moeda, das madeiras exóticas ou dos escravos. Não. Eles querem também o espaço, a terra. Querem tudo!
Que pobre Europa esta que apenas tem para dar uns “direitos humanos” que nem sequer pratica. A Europa escrava dos mercados, incapaz de proibir as bolsas, sem gente capaz, que limita o crescimento dos Países mais fracos, inoperante e ignorante, onde brevemente vai novamente campear a doença e a fome. Se os atrasados mentais fossem os homens com juízo, na Europa bem que se podiam fechar os manicómios!
Neste Mundo a força assenta nas armas e no dinheiro, nunca na Cultura!
Manifesto de responsabilidade
Os artigos e os respectivos conteúdos publicados neste blogue são da exclusiva responsabilidade dos seus subscritores e não vinculam de forma alguma o Sítio do Livro.
Este blogue está dedicado exclusivamente à livre participação pelos autores que publicam livros por intermédio do Sítio do Livro, o qual não exerce qualquer moderação ou interferência nos artigos aqui publicados.
Assim mesmo, pede-se aos participantes que, para não se desvirtuar o intuito do blogue, se atenham a temas do mundo dos livros e dos autores, da literatura ou, mais em geral, culturais.
SitiodoLivro.pt-
ou via feeds RSS
Quer publicar um livro?
Quem já publicou connosco
-
Artigos Recentes
- Obras de arte e de utilidade, que hoje servem para ver em qualquer Museu.
- Depois da Vela Apagada
- O Último Oleiro
- RÓMULO DUQUE
- Queria candidatar-me ao plano nacional de leitura 2020 se faz favor
- Um animal um tanto talentoso
- Como o livro “Uma lógica causa-efeito” se está aproximando do razoável
- Uma libelinha em desespero
- Nos caminhos do ser Humano (III)
- Nos caminhos do ser Humano (II)
- Convite
- “Nos Caminhos do Ser Humano”
- VOLTAIRE – Tratado sobre a Tolerância
- JOÃO VILLARET, ANTÓNIO BOTTO E FERNANDO PESSOA
- STEPHEN CRANE – É boa a guerra
Comentários Recentes
- Dominic Benton em Dois poemas…
- Elisa em AS REDACÇÕES DO CARADANJO
- romuloduque em Queria candidatar-me ao plano nacional de leitura 2020 se faz favor
- Pedro Machado em GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL – Primeira travessia aérea do Atlântico Sul
- Engrácia Rodrigues em Um animal um tanto talentoso
- Ariane em O milagre de Eir ( de Danilo Pereira )
- VOLTAIRE – Tratado sobre a Tolerância — Blogue dos Autores | O LADO ESCURO DA LUA em VOLTAIRE – Tratado sobre a Tolerância
- ERNEST WIECHERT – ‘FLORESTA DOS MORTOS’ – O testemunho sobre o terror nazi — Blogue dos Autores | O LADO ESCURO DA LUA em ERNEST WIECHERT – ‘FLORESTA DOS MORTOS’ – O testemunho sobre o terror nazi
- rosalinareisgmailcom em Gestão de Existências e Apuramento de Custos, de Rosalina Reis
- EUGÉNIO DE ANDRADE – Último Poema – Filipe Miguel em EUGÉNIO DE ANDRADE – Último Poema
- FERNANDO PESSOA – Como a noite é longa! – Filipe Miguel em FERNANDO PESSOA – Como a noite é longa!
- Poema de JOSÉ TERRA dedicado a MATILDE ROSA ARAÚJO – Descoberta — Blogue dos Autores | O LADO ESCURO DA LUA em Poema de JOSÉ TERRA dedicado a MATILDE ROSA ARAÚJO – Descoberta
- AntimidiaBlog em PAUL ÉLUARD – A poesia será feita por todos…
- Ribeiro em Depois da Vela Apagada
- anisioluiz2008 em Crescendo Constroem-se os Sonhos(V)
Categorias
- eventos (6)
- Notícias (10)
- Notícias, eventos (43)
- Novidades, lançamentos (54)
- Opiniões (11)
- Opiniões, testemunhos (98)
- testemunhos (7)
Arquivo
- Setembro 2022 (1)
- Junho 2022 (3)
- Dezembro 2019 (1)
- Julho 2019 (1)
- Maio 2019 (1)
- Maio 2018 (1)
- Abril 2018 (4)
- Março 2018 (4)
- Fevereiro 2018 (7)
- Janeiro 2018 (5)
- Dezembro 2017 (10)
- Agosto 2017 (3)
- Maio 2017 (1)
- Fevereiro 2017 (2)
- Janeiro 2017 (1)
- Novembro 2016 (3)
- Outubro 2016 (5)
- Junho 2016 (1)
- Maio 2016 (3)
- Abril 2016 (2)
- Março 2016 (1)
- Fevereiro 2016 (1)
- Janeiro 2016 (3)
- Outubro 2015 (1)
- Setembro 2015 (2)
- Agosto 2015 (5)
- Julho 2015 (1)
- Junho 2015 (9)
- Maio 2015 (7)
- Abril 2015 (27)
- Março 2015 (8)
- Fevereiro 2015 (3)
- Dezembro 2014 (2)
- Novembro 2014 (1)
- Outubro 2014 (3)
- Setembro 2014 (4)
- Agosto 2014 (4)
- Julho 2014 (2)
- Junho 2014 (5)
- Maio 2014 (9)
- Abril 2014 (10)
- Março 2014 (19)
- Fevereiro 2014 (36)
- Janeiro 2014 (4)
- Dezembro 2013 (5)
- Outubro 2013 (8)
- Setembro 2013 (4)
- Agosto 2013 (1)
- Julho 2013 (4)
- Junho 2013 (5)
- Maio 2013 (15)
- Abril 2013 (19)
- Março 2013 (13)
- Fevereiro 2013 (20)
- Janeiro 2013 (23)
- Dezembro 2012 (19)
- Novembro 2012 (24)
- Outubro 2012 (30)
- Setembro 2012 (26)
- Agosto 2012 (32)
- Julho 2012 (27)
- Junho 2012 (41)
- Maio 2012 (47)
- Abril 2012 (39)
- Março 2012 (38)
- Fevereiro 2012 (45)
- Janeiro 2012 (56)
- Dezembro 2011 (38)
- Novembro 2011 (56)
- Outubro 2011 (83)
- Setembro 2011 (54)
- Agosto 2011 (38)
- Julho 2011 (43)
- Junho 2011 (50)
- Maio 2011 (43)
- Abril 2011 (10)
- Março 2011 (8)
- Fevereiro 2011 (9)
- Janeiro 2011 (16)
- Dezembro 2010 (4)
- Novembro 2010 (7)
- Outubro 2010 (5)
- Setembro 2010 (2)
- Agosto 2010 (4)
- Julho 2010 (4)
- Junho 2010 (6)
- Maio 2010 (2)
Os nossos bloggers
- antoniapalmeiro
- araujosandra
- catiapalmeiro
- Clemente Santos
- cmanuelsimoes
- Cristina Rodo
- danarts
- danielsmile15
- Armando Frazão
- dulcerodrigues
- fernandojer
- gilduarte
- inesartista
- Intermitências da escrita
- jacques miranda
- José Guerra
- José Eduardo Taveira
- jsola02
- Lou Alma
- luizcruz1953
- macedoteixeira
- maria joão carrilho
- Marifelix Saldanha
- martadonato
- modestoviegas
- mpcasanova
- nunoencarnacao
- Nuno Gomes
- oflmcode
- orlandonesperal
- paulopjsf
- Pedro Nunes o B)'iL
- projectosos
- ritalacerda
- rodrigolvs
- Rómulo Duque
- rosalinareisgmailcom
- saalmeida
- SitiodoLivro.pt
- taniamarques241
- vanessaoleal
- vpacheco44
- withinthegalaxy
As últimas publicações
Ligações que recomendamos
Os nossos Autores
Os nossos e-books
Todas as nossas publicações