Maria está cada vez mais triste. Pergunta-se como conseguirá ânimo para continuar a resistir àquela clausura. Na sua cabeça passam ideias, que ela tenta repelir para não cometer erros que lhe provoquem problemas com as freiras.
O transformar-se em mulher, alertou-a para não sabe bem o quê. Talvez para reflectir, olhar para si mesma, possuidora de uma consciência precocemente amadurecida.
Maria não fala habitualmente com ninguém, excepto com a Laurinda, quatro anos mais velha. Dormem em camas próximas e tomam as refeições sentadas em frente uma da outra. Não será talvez uma grande amizade, mas há empatia entre ambas. Maria não esquece a sua ajuda naquela circunstância complicada e ser-lhe-á eternamente grata por isso.
A relação com as outras raparigas é difícil, porque mostram entre si uma desconfiança e inveja incompreensíveis, talvez devido à atmosfera de hostilidade provocada pelas freiras.
Inveja de quem e de quê? Todas têm as mesmas origens e não possuem nada de seu. Ou será por isso mesmo?
(Continua)
José Eduardo Taveira