“JUNTOS PARA SEMPRE” – (6) – José Eduardo Taveira

Maria teve um sonho lindo. Tão belo que receou acordar. Sonhara que passeava por jardins cobertos com flores de todas as cores que exalavam perfumes exóticos, onde havia gente feliz a brincar com crianças e um sol tão vivo que apetecia agarrá-lo para aquecer o seu corpo; que saltava à corda e corria gozando a brisa morna que acariciava a sua face jovial; que se banhava sob as águas cristalinas de uma cascata que brotava do Céu; que deitada na relva, olhava as nuvens de várias cores que se divertiam, transformando-se em anjos brincalhões e lhe provocavam sonoras gargalhadas.

São sete e meia e o maldito sino badalou para o levantar. Aquele sonho sugeriu-lhe a liberdade que tanto deseja. Fugir para fruir como as outras pessoas o prazer de passear, de brincar, de amar. Fugir sem destino. Fugir para respirar o ar puro que lhe dê força para viver. Fugir para lado nenhum. Mas fugir! Maria, através da janela do refeitório, apenas pode ver aridez e imundice como limite da sua ambição. Da ambição que as freiras querem que seja a das jovens ali fechadas. Não há um único sinal de auto-estima em cada uma das raparigas. Vestem fardas descoloridas, feitas à medida de ninguém.

Naquele cosmos construído pelas arquitectas designadas pelo Altíssimo para difundirem o bem e a moral, a humildade e a subserviência, é proibido pronunciar as palavras rapaz e homem. Apenas existem seres assexuados que devem ter vergonha dos seus corpos. Será que este conceito se aplica às freiras em relação ao padre de aspecto seboso?

(Continua)

José Eduardo Taveira

 

 

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