“NÃO DÁ PARA ACREDITAR” (3ª PARTE)
Na sequência dos dois artigos anteriores sobre o encerramento da Livraria Camões no Rio de Janeiro, transcrevo algumas das declarações e desabafos do poeta José Estrela:
– “José Sarney, quando era Presidente (1985-1989), frequentava a livraria e Fernando Henrique Cardoso (presidente do Brasil entre 1995-2002) também veio muito aqui”.
– “José Saramago lançou seu primeiro livro no Brasil justamente aqui. O livro “Cartas de Amor”, de Fernando Pessoa, também foi lançado na livraria, com a presença da sobrinha-neta da namorada de Pessoa”.
– “A extensa lista de personalidades que passaram pelo estabelecimento vai de António Lobo Antunes a Mário Soares, e inclui o actor brasileiro José Wilker – leitor assíduo de livros sobre teatro português”.
– “Chegamos a ter livros de 114 editoras. O público era ecléctico. Havia estudantes, professores, gente da área médica e do direito. O público mais geral também procurava muitas edições de bolso de autores de ficção contemporâneos”.
– “Não culpo ninguém. Eu só tenho pena que Portugal faça isso. Talvez a culpa seja um bocado nossa, porque caímos muito em vendas”.
– “Entre os anos de 1984 e 1986, a livraria comercializou mais de 200 mil títulos. No total, mais de dois milhões de livros foram importados pela loja nas suas quatro décadas de existência”.
– “Ajudei muitos estudantes brasileiros interessados em desvendar os mistérios da história e da cultura portuguesas”.
– “Os livros que restam serão todos vendidos, possivelmente a preços abaixo do valor real. Ainda não comecei a fazer contactos, mas devemos oferecer a bibliotecas e livrarias de universidades, que são as que mais compram”.
— “Estou vivendo minha segunda viuvez. (José Estrela perdeu a mulher há 25 anos num acidente de carro), mas jamais imaginaria que tanta gente admirasse o trabalho que fiz nesses 40 anos. Tenho recebido mensagens de carinho de todas as partes. Isso me dá uma alegria que paga todo o sofrimento que eu possa ter agora”.
– “ Percorri com os vendedores todos os estados do Brasil. Saíamos de ônibus e andávamos horas até, por exemplo, Belém do Pará. Chegávamos de madrugada e tínhamos que esperar o comércio abrir. Dormíamos nas estações rodoviárias com as malas amarradas às pernas para ninguém levar”.
-“ Vou viver meus últimos anos. Talvez continue com livros”.
– “Ninguém pode amar o que não conhece.”
José Eduardo Taveira
É este o vergonhoso Portugal que temos. O mais grave é que as sondagens continuam a dar a esta gente uma confortável maioria. Um abraço, amigo, que por este caminho triste também caminha.
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É verdade. Neste post dei conta do trabalho árduo de um homem que se dedicou à missão de divulgar a cultura portuguesa pelo Brasil.
Amanhã publicarei as reacções de várias personalidades ligadas à cultura.
Um abraço
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