ANTES DE…
Antes existia País, feito de coisa pouca. Terra de gente vencida, conformada, feita de saberes tristes e de fomes pequenas. No Alentejo, na pequena cidade de Moura, os ganhões, (trabalhadores agrícolas contratados à jorna), sentavam-se no chão encostados à empena do mercado Municipal, porque corpo deitado aguenta melhor a fome. Os novos combatem em África pelas necessidades da Pátria de poucos. Uns morrem e muitos ficam por lá, cadáveres, em terra estranha; outros voltam, ou como cadáveres, que podem pagar o transporte, ou como deficientes, para mendigar por trabalho nas casas dos ricos, ou vazios de alma porque doutores no horror do medo do que viram e viveram. Portugal esventra-se na sua miséria de séculos, acobarda-se frente ao puder dos falsos lideres. Portugal não existe. É apenas um nome, um pedaço de terra empurrado para o mar…
LIBERDADE DE SER DE NOVO GENTE…
Na madrugada tépida movimentam-se homens. Gente simples, modesta, feita de esperanças de vencer. Trazem armas mas não querem guerra, vêm por paz de ser, de viver, de não sofrer. Por balas trazem cravos que florescem nos canos, vermelhos do sangue que não se derramou. Vêm sós, em carros cinzentos e velhos de guerras, saídos das brumas das vãs glórias da morte. Lutar sim, mas por esta terra nossa. Aqui estamos, amigos, irmãos, que todos nos recusamos a morrer por nada, pelo que não temos, pelo que não sentimos, pelo que não queremos nosso porque nosso não é. E esses rapazes vencem a morte por querer viver. O Povo que espreita da janela, como sempre, vem depois, em deslumbres de prazer pela vitória que na bandeja de prata aqueles moços trouxeram. Sorrisos. Abraços. Beijos. A Alegria de voltar a ser gente, o prazer de pensar, de sonhar, de viver. A Pátria voltou a ser, livre das moléstias dos vendilhões de poeiras de uma falsa História sem modéstias, inventada nas mentes torpes dos que, por tantos e tão longos anos, negaram ao Povo o direito de ser Povo. A Vitória chega, sorri e vence. As gentes renascem das trevas, e são tantas, que julgo que os mortos das tumbas vieram, para viverem felizes, livres, um dia que seja, com a dignidade que de direito cabe ao ser Humano. As ruas, as praças, as vielas deste país de séculos, encheram-se então, dos vivos e dos mortos, irmanados no sonho da Quimera de ter identidade como gente…
HOJE…
Milhares de mortos depois, por essa África distante abandonada à sua sorte, impreparada, nunca emancipada, a esmolar saberes por falta de tudo, de universidades, de intelectuais, de quadros, aqui estamos de novo, na miséria de ser gente quieta e pequena, vitima dos netos dos mesmos que, durante tantos anos, nos ditaram as normas de saber, por decreto, como e o que se pode pensar. Os cravos murcharam nos canos das armas. Morreram os cravos, ficaram os canos. O Povo volta a espreitar pelas vidraças das janelas, por entre as frestas das cortinas, se vê ao longe a tropa que vem pela estrada, dentro dos seus carros cinzentos. Mas a tropa está teimosa, agora acomodada em outros saberes, e é como se diz, pensa, agora é a vossa vez. E o Povo responde: Para que queremos a nossa tropa, se não para fazer as revoluções nossas. Somos quietinhos e os nossos ganhões voltam a sentar-se no chão, de encosto às empenas dos mercados, dos palácios, das casas dos ricos, para aguentar a fome, por falta das fábricas que não temos, porque alguém as vendeu para fazer dinheiro fácil. Jogamos à bola nos estádios de que não precisamos, mas que fizemos, na estupidez da grandeza de querer parecer, não de ser. Pátria que se foi de novo, quietinha, de mordaça posta, a resguardar-se no aconchego de novos contos de fada. Pátria triste, sem cravos, sem tropa, sem carros cinzentos.
Portugal já não é, de novo, terra. É nome que se desconhece no mundo gigante, perdido na bruma de uma qualquer memória que leu algures que existiu em tempos…
Portugal já não é, de novo, terra de gente…
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Portugal país pequeno,
Nove vezes centenário,
A beira-mar plantado,
Fez historia no mundo,
Pelo forte crer e saber,
De um povo,
Com sentimentos profundos,
Farol dos povos,
Senhor dos mundos.
País de guerreiros,
E exímios marinheiros,
Que fez historia,
Granjeando respeito,
Cobrindo-se de gloria.
Onde esta a tua alma guerreira,
Tua lealdade a honestidade,
Amor a verdade,
Teu crer e saber,
Para de novo te erguer,
Das cinzas,
Dos que ignobilmente,
Esqueceram as mais elementares regras,
Da honestidade, do dever.
Intrínseco na historia de um povo,
Que foi ordeiro e guerreiro.
Tenho esperança tenho em crer,
Que virás a ser,
De novo altaneiro,
Valente, guerreiro.
Conseguirás identificar e banir,
A escumalha do poleiro.
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Amigo:Espero de todo o meu coração de português que tenha razão! Mas, a verdade verdadinha, é que somos impotentes perante este mundo do capital desenfreado, e da imoralidade dos nossos ganânciosos que se agarram ao poleiro e não largam! É que na nossa História, como em todas as outras Histórias, as virtudes e as valentias misturam-se com lendas contadas ao borralho das lareiras, nas noites frias de inverno, Espero que eu esteja errado. O tempo o dirá… Abraço!
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