Todo o escritor é um contador de estórias, e eu venho contando estórias desde os bancos da escola. À medida que fui crescendo, fui também sentindo um fascínio cada vez maior por mitos e lendas e pela filosofia dos contos orientais. É um desses contos que vou partilhar hoje convosco.
Dois discípulos dirigiram-se um dia ao mestre e perguntaram-lhe qual a diferença entre Conhecimento e Sabedoria. O mestre foi até à janela e disse-lhes: “Vêem ali aquela montanha? Amanhã, vão colocar dez feijões dentro de cada um dos vossos sapatos e depois vão subir até ao cimo da montanha.”
Os dois discípulos assim fizeram. Quando ainda estavam a meio do caminho, um dos discípulos já quase não podia andar, pois os feijões dentro dos sapatos magoavam-lhe os pés. Mas o outro parecia não sentir qualquer dor. Quando chegaram ao cimo da montanha, um dos discípulos continuava feliz e sorridente; o outro tinha o semblante marcado pela dor.
Então, aquele que sofria perguntou ao companheiro: “Como é possível que tenhas conseguido realizar a tarefa do mestre com alegria, enquanto que para mim foi um verdadeiro sofrimento?”
“Ontem à noite, cozi os feijões antes de os pôr nos sapatos”, respondeu-lhe o outro discípulo.
Não devemos confundir Conhecimento com Sabedoria. O Conhecimento está na base da nossa cultura e resulta de um processo de aquisição de informações. A Sabedora implica que saibamos aproveitar esse conhecimento para tornar a nossa vida mais bela, mais feliz, mais realizada. Para se ter conhecimento, basta aprender o que vem nos livros. Para se ter sabedoria é preciso experimentar, ousar, respeitar, amar… numa palavra, é preciso viver e estar à escuta da própria vida. A Sabedoria é uma viagem em que nos deixamos encantar pela paisagem, sem todavia nos esquecermos do sítio para onde vamos. A Sabedoria resulta do que soubermos fazer do nosso Conhecimento.