PARABÉNS, ANTÓNIO BOTTO!

António Botto nasceu em Concavada, Abrantes, no dia 17 de Agosto de 1897 e viveu até 17 de Março de 1959.

Foi poeta, ficcionista e autor dramático, figura de referência do modernismo português.

Nesta homenagem no dia do seu aniversário, o poema:

À memória de   Fernando Pessoa

Se eu pudesse fazer com que   viesses

Todos os dias, como antigamente,

Falar-me nessa lúcida visão –

Estranha, sensualíssima, mordente;

Se eu pudesse contar-te e tu me   ouvisses,

Meu pobre e grande e genial   artista,

O que tem sido a vida – esta boémia

Coberta de farrapos e de estrelas,

Tristíssima, pedante, e   contrafeita,

Desde que estes meus olhos numa   névoa

De lágrimas te viram num caixão;

Se eu pudesse, Fernando, e tu me   ouvisses,

Voltávamos à mesma: Tu, lá onde

Os astros e as divinas madrugadas

Noivam na luz eterna de um   sorriso;

E eu, por aqui, vadio de descrença

Tirando o meu chapéu aos homens de   juízo…

Isto por cá vai indo como dantes;

O mesmo arremelgado idiotismo

Nuns senhores que tu já conhecias

– Autênticos patifes bem-falantes…

E a mesma intriga: as horas, os   minutos,

As noites sempre iguais, os mesmos   dias,

Tudo igual! Acordando e   adormecendo

Na mesma cor, do mesmo lado,   sempre

O mesmo ar e em tudo a mesma   posição

De condenados, hirtos, a viver –

Sem estímulo, sem fé, sem convicção…

Poetas, escutai-me. Transformemos

A nossa natural angústia de pensar   –

Num cântico de sonho! E junto   dele,

Do camarada raro que lembramos,

Fiquemos uns momentos a cantar!

  

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