“JUNTOS PARA SEMPRE” (12 )

      “JUNTOS PARA SEMPRE” ( 12 )
 
          Para Maria, a sua reentrada no Orfanato foi uma surpresa. As freiras receberam-na com fleumática cordialidade, talvez reconhecendo que foram responsáveis pela doença originada pelas condições sub-humanas em que tinha vivido durante um mês. Permitiram que as raparigas rodeassem Maria, fazendo-lhe perguntas sobre o que lhe tinha acontecido para estar tanto tempo fora. Nem queria acreditar no que estava acontecer. Foi respondendo à curiosidade das colegas. Este inesperado acolhimento fê-la sentir ressarcida pelos momentos dramáticos que tinha vivido naquela Casa. Trinta minutos depois uma freira avisou-as que acabou o recreio.
          Ao fundo da camarata uma rapariga sentada na cama chora, tapando a cara com as mãos trémulas do frio ácido vertido das suas entranhas, provocado pelos remorsos do seu traiçoeiro comportamento. Laurinda tem a certeza que Maria nunca a perdoará.***************************************************

Passadas algumas semanas Maria volta a sentir-se doente.

          Não tem vontade de comer, acorda frequentemente com calafrios, dores no peito, tosse e expectoração, além de ter a sensação de estar com febre. É transferida para o Hospital e fica novamente internada. O diagnóstico médico é grave. Maria tinha contraído tuberculose pulmonar e iria ficar isolada num quarto destinado a doentes infecto-contagiosos. Não tem a noção das consequências de alto risco que esta doença provoca. Talvez por isso se mostre satisfeita por mais uma vez se libertar do Orfanato.

          O Doutor Alberto Carlos considera que ela poderá ter sorte se reagir bem à estreptomicina, que é o primeiro antibiótico eficaz para o tratamento da tuberculose. Fora recentemente descoberto, em 1944, pelo ucraniano Selman Walksman, especialista em microbiologia. Está confiante, pois são já conhecidos os bons resultados obtidos em vários doentes. No entanto Maria tem resquícios provocados pelos antecedentes da sua história clínica, que poderão atrasar a sua cura, que é em princípio, exequível.

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   A enfermeira Celeste pára a observar o rosto adormecido de Maria. Está impressionada com as suas adversidades. Ela conhece bem o regime austero do Orfanato e compreende a sua aversão àquele ambiente iníquo.

Celeste, tem quase quarenta anos de idade e também esteve internada naquela prisão. Saiu porque Amélia decidiu responsabilizar-se pela sua educação. Intimamente sente um apelo para ajudar Maria. Não sabe ainda de que maneira, mas como profissional irá apoiá-la no tratamento e recuperação a que terá de se submeter durante tempo indeterminado.

          Maria, ao acordar, vê a cara sorridente da enfermeira Celeste. Surpreendida pergunta se lhe vai acontecer alguma coisa de mal.

          – Vou ser tua amiga. Acredita em mim. Vou ajudar-te a curar esta maldita doença, mas tens de colaborar com o teu esforço. Ninguém consegue nada sozinho, percebes?

          – Eu sei, enfermeira Celeste. Mas a minha vida tem sido uma desgraça e eu não consigo ver uma luzinha de felicidade, por muito que queira. Tenho sofrido tanto que não sei se vou conseguir aguentar. Sinto-me desanimada, triste, sem forças.

          – Pois claro que te sentes fraca, mas vais melhorar, devagarinho, vais, vais. Acredita no que te digo.

          – Enfermeira Celeste, o que eu mais queria era não voltar para o Orfanato. Não aguento mais, acredite. Gostava tanto que me ajudasse.

         – Eu não te posso prometer nada, mas vou falar com o Doutor Alberto Carlos sobre o teu desejo, que eu compreendo-te como ninguém, podes crer. Bem, agora descansa, pois não deves estar tanto tempo a falar.

           Quando chegou a casa, Celeste contou a Amélia a triste história de Maria.

          – Toda a gente tem pena daquela rapariga, coitada. Até o médico a trata por Miúda, em tom carinhoso.

          Ambas concordaram em ajudá-la.

(Continua)

José Eduardo Taveira

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