Maria completou treze anos, tantos quantos viveu desde o dia em que foi abandonada na soleira da porta do Orfanato.
Nunca comemorou o dia do seu aniversário. As freiras fazem questão de festejar estas datas com um horário sobrecarregado de orações para glorificar Deus, agradecendo a prerrogativa de terem nascido.
– Treze anos! Quanto tempo mais serei obrigada a viver neste inferno? – pensou.
Todos os dias as freiras, especialistas em lavagens ao cérebro, repetem a mesma ladainha:
– Para vocês, raparigas, o principal da vossa educação é aprenderem a cuidar das tarefas domésticas, serem humildes, obedientes e respeitarem os vossos superiores e as pessoas importantes. Nunca, mas nunca, ofenderem com palavras ou actos Deus Nosso Senhor, o Espírito Santo, Nossa Senhora ou os seus representantes na Terra. Quem o fizer sofrerá os castigos que a vontade Superior do Senhor determinar. Deveis rezar, rezar, dia e noite, para salvação das vossas impuras almas. Deus criou-vos para O servirdes. Não deveis pensar no que se passa para lá destas paredes, onde só existe podridão que ofende Deus Nosso Senhor. E vós quereis ofender Deus Nosso Senhor? Respondam comigo: Não!
E um coro de vozes submissas repete: Não!
Glória ao Pai e ao Filho
E ao Espírito Santo
Como era no princípio, Agora e sempre. Ámen.
(continua)
José Eduardo Taveira