Jorge de Sena (Lisboa, Portugal, 1919 – Santa Bárbara, Califórnia, EUA, 1978).
Palavras de Jorge de Sena:
“Esta é a ditosa pátria minha amada. Não. Não é ditosa, porque o não merece. Nem minha amada, porque é só madrasta. Nem pátria minha, porque eu não mereço a pouca sorte de ter nascido nela.” (…)
Génesis
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
Por mais justiça…- Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade…Ó transfusão dos povos!
Não há verdade: o mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.
Jorge de Sena, in “Coroa da Terra”