Deus… também É assim!
Macedo Teixeira
— Ora, ora, ninguém me tira da ideia que isto de Deus foi tudo uma invenção. O povo, para poder resistir à vida, precisa de acreditar em alguma coisa, e alguém inventou a existência de algo superior para o homem se poder iludir.
— Que está a dizer, senhor Pedro?! Então o senhor também acredita que alguém pode inventar fantasias e que estas se mantenham para sempre?!
— É como lhe digo, amigo João: quando a gente lê a História, vê que os deuses foram inventados pelos homens, dava-lhes prazer identificarem-se com algo superior e assim justificavam todo o tipo de atrocidades e glórias, que mais não eram do que fantasias para as suas vaidades.
— Não é bem assim, senhor Pedro: olhe que mesmo esses tinham temor pelas tempestades, secas, doenças, e por isso imitavam os deuses na honra, mas também na beleza, na justiça e até nas guerras e na morte os invocavam para triunfarem na terra e para no fim das suas vidas serem conduzidos aos Céus e libertados dos Infernos.
— Ora, ora, balelas é o que isso é! Pois não é verdade que os reis, os imperadores e os chefes das tribos se justificavam nas suas loucuras e fantasias com esses seres que inventaram; matavam, pilhavam, divertiam-se nos circos a verem os escravos a lutarem uns com os outros, quase sempre até à morte, para gáudio dessa gente que se intitulava na conformidade dessas divindades, que diziam estar escondidas nos céus?
— Bem, se pensarmos por esses maus exemplos, o senhor tem muita razão, mas mesmo assim não é verdade que no meio de todas essas loucuras havia algo que eles adoravam e a que prestavam culto, prometendo obedecer, condenando cegamente seres em sacrifício de morte como oferenda às divindades e implorando depois, por meio dos religiosos do tempo, que os deuses lhe dessem os triunfos nas guerras, as abundâncias nas colheitas, a riqueza da saúde, da força e da inteligência?
— Ó amigo João, eu já vi que consigo não adianta: o amigo é crente nessas coisas, mas eu não acredito, para mim isso são balelas, pois nós somos como qualquer animal, nascemos e vivemos conforme nos deixa a Natureza, a sociedade e o dinheiro, depois acabamos na terra comidos pelos bichinhos que antes comêramos nós.
— Não seja assim, senhor Pedro, você sabe que eu lhe tenho amor, que fico triste quando você está triste, fico feliz quando você está feliz e que ficamos saudosos quando estamos distantes, por isso acreditamos um no outro, e olhe que nós não somos deuses!
— Tem razão, amigo João, eu exaltei-me. O nosso amor é muito mais forte do que qualquer querela.
— Vê… como o senhor lá chegou?
— Como, não entendo?
— Pois, se o amor é mais forte do que nós, então isso quer dizer que há algo que nos supera, e se o amor é algo que nos supera, então Deus é amor!
— Não estou a entender a sua lógica!
— Eu explico:
Sabe? Os homens foram descobrindo e chegaram à conclusão de que esses deuses eram aceções sensíveis de um Deus Único, que, sendo Único, só pode ser Amor.
— Está a dizer-me que Ele não tem designações?!
— Isso mesmo!
— Eu explico melhor:
Não é verdade que o senhor é único, e que fica feliz quando vê os seus filhos e eles ficam durante algum tempo consigo, e, por amor, às vezes até ficam por mais tempo do que aquele que podiam?
— Sim, é verdade!
— E não fica ainda mais feliz quando, sem que eles lhe peçam, você lhes fala e os ouve nas suas aflições, para que com o seu amor, préstimos e inteligência os possa ajudar a serem mais felizes?
— Sim, é verdade, mas continuo a não entender aonde o amigo João quer chegar!
— Então se é assim, pela mesma ordem de razões, poderemos concluir que quando eles, sem motivo algum, não lhe falam nem vão a sua casa, o senhor Pedro ficará triste?!
— Sim, com certeza!
— Mas não deixa de os amar?
— Não!
— Então imagine algo mais simples:
Quando os seus filhos estão consigo e depois se retiram, mas dizem “Até logo” ou “Até amanhã”, o senhor fica contente?
— Sim!
— E se eles, além disso, o beijarem?
— Fico ainda mais contente!
— E se eles saírem e nem sequer se despedirem?
— Fico triste!
— E porquê?
— Porque os amo incondicionalmente, não posso exigir que se lembrem, mas confesso que só no seu amor me sinto um verdadeiro pai!
— E isso só será para si, ou espera que eles procedam também com amor para os outros?
— Será para mim e também para os outros; não só eu, como os meus e como os demais semelhantes!
— Pois bem, sendo assim poderemos concluir das suas palavras que o amor se manifesta na nossa sensibilidade, e não apenas em nós, mas também nos outros, e que este amor vai do mais simples para o mais complexo, e como seres únicos que somos, somos também no limite absolutos?
— É verdade!
— Então Deus… também é assim!
E já agora, na nossa modesta opinião, poderemos concluir com razão que Deus é Amor, uma vez que Ele contém todo o amor que cada um partilha com os outros e parece captar como Seu e senti-lo incondicionalmente nos seus limites, pois sendo o Amor a mesma essência para todos, este tanto se poderá assemelhar a um pequeno grão ou ao tamanho todo sem que nenhuma das grandezas perca o valor de ser uma totalidade.
— Quero acreditar no que diz, amigo João! Pelos vistos você parece ter razão! Mas sabe-se lá se Deus também será assim!