António Nobre (Porto, Portugal, 1867-1900).
Poeta vanguardista da modernidade, foi considerado uma das mais importantes figuras do simbolismo em Portugal.
Palavras de António Nobre: “ Só, é o livro mais triste que há em Portugal.”
Tempestade!
O meu beliche é tal qual o bercinho,
Onde dormi horas que não vêm mais.
Dos seus embalos já estou cheiinho:
Minha velha ama são os vendavais!
Uivam os ventos! Fumo, bebo vinho.
O vapor treme! Abraço a Bíblia, aos ais…
Covarde! Que dirá teu Avozinho,
Que foi mareante? Que dirão teus Pais?
Coragem! Considera o que hás sofrido,
O que sofres e o que ainda sofrerás,
E vê, depois, se acaso é permitido.
Tal medo à Morte, tanto apêgo ao mundo:
Ah! Fôra bem melhor, vás onde vás,
António, que o paquete fosse ao fundo!
António Nobre, in ‘Só’