O Vicio do Artesão Orlando Nesperal

Continuação:

 

 

 

Dicas

 

               As ideias: –Toda a criação vem do pensamento, embora seja uma afirmação contraditória para os materialistas, como idealista que sou, busco no pensamento as ideias com que faço os meus trabalhos. Não representam obras-primas mas apresentam algum avanço pessoal na forma de criar arte. As ideias são importantes, sem elas, jamais é possível fazer alguma coisa que possa ser apreciada por outros.

Como é possível dar seguimento a uma ideia, é claramente, torná-la visível, e ser apreciada por outros. Tenho sempre presente que, cada passo leva sempre a outra ideia e cada ideia se vai transformando em resultados.

Se me perguntarem como nasce as ideias, certamente que as mesmas são produto do sentimento e das emoções como vemos as coisas, as apreciamos e lhe damos valor sentimental ou crítico. Não se pode fazer aquilo que não gostamos e menos ainda, não colocarmos emoção na realização.

As ideias dão bons ou maus frutos consoante amamos e sentimos essas ideias. Ninguém espere ter novas ideias se não possuir graus de elevado sentimento tanto pelas coisas como pelas pessoas, não tenho culpa; ”Amar de mais as pessoas e ter sentimentos pelas coisas”. Esta frase foi escrita por mim, creio pelos meus 25 anos. Neste contexto de dicas de um artesão não posso dizer que tudo isto é válido, mas cada um vai cavando e alargando a sua própria estrada.

O que me leva a escrever é; primeiro porque o faço com prazer, a segunda, muitos se queixam de querer saber e gostavam de frequentar cursos, mas deparam-se que por escrito há pouco ou nada e práticos não estão por perto ou não são acessíveis, e mesmo fora da bolsa de quem não tem. Acrescento que muito dos artesões, ao desenvolver a sua atividade, acabam por não acompanhar a escrita e muito menos não terem hábitos da mesma o que resulta uma baixa existência de manuais sobre este assunto. Contudo já existe muita coisa a avulso ou em vídeos na internet. Saber utilizar esta ferramenta nos dias de hoje é o passo para a comunicação e conhecimento Universal.

O grande passo é: –Ao criar a ideia é colocá-la de imediato por escrito. A memória não é o lugar próprio para a guardar. Mas sim o caderno de bolso, que deve andar sempre consigo, para o registo ser imediato. … Em qualquer momento estes registos vão servir de apoio ou mesmo levá-lo à sua concretização, renovando essa ideia ou juntando outra.

                Os desenhos: – São a transformação da ideia, como sinal da existência da mesma, pode ser tosco ou desajeitado, mas para o quem fez, lê perfeitamente e encontra um permanente resultado para uma concretização. Tenho por princípio, que não sou capaz de partir para fazer o quer que seja, sem esboçar num papel, mesmo simples, para que se torne num guia durante a execução.

Como o fazer; ou temos alguma capacidade para o desenho ou nos limitamos a fazer coisas de cópias e limitamos a reproduzir esses originais nos materiais, com os quais pretendemos trabalhar. Nestes casos o decalque, com o já a desaparecer do mercado, o papel químico, é o método ainda muito usado e fazem-se trabalhos admiráveis. A forma mais original é sem dúvida fazermos nós o nosso próprio diretamente no local onde desejamos projetar a ideia.

Bem sei que um desenho, é algo que é próprio para o pintor, mas o artesão na prática é sempre uma mistura de conhecimentos, daí estar sempre a aprender. Mas também se pode recorrer ao modelo ou à amostra que encontramos ou nos facultam para a execução, é estas situações que devemos enfrentar e possuir, uma visão clara das coisas para que o resultado se torne bem feito objetivo e transparente.

Sendo o desenho uma das suas capacidades, deve mesmo recorrer a ele, tal como eu faço questão de todo o texto dos meus trabalhos sejam de minha autoria, não recorrendo a frases ou coias do género, que não estejam relacionados como sendo da minha lavra.

Portanto o desenho faz parte integrante do processo laboral, ao qual devemos coloca—lo como, parte integrante e bem assim será sempre a primeira moldura onde podemos observar parte do trabalho final.

            As dimensões: -São os formatos em que nos propomos fazer os trabalhos, e são estas formas muito importantes a ter em consideração, começando primeiro por ter em atenção as grossuras das madeiras, na gira “tirar as grossuras”, quando estejamos a fazer uma caixa mesmo simples que seja.

Os formatos devem estar sempre muito bem equilibrados, para que haja um bom senso, tanto ao olhar como na utilidade, mas sobretudo numa gravura-entalhe, a mesma deve–se enquadrar ao tamanho que a madeira tem, para existir uma boa receção à vista e estar diretamente proporcional em todos os ângulos ou distâncias, é muito importante, estas constantes, e se aplica seja qualquer que seja a arte.

Daí sempre que se inicie uma obra devemos ter já no desenho mencionado as medidas corretas para que os cortes e distâncias fiquem como se pensou e sobretudo para não se correr o risco de chegar ao fim, termos uma exclamação: -Não gosto, é o pior que me pode acontecer, a harmonia deve ser absoluta e definitiva, razão de termos o plano bem feito e sobretudo a nossa mente já ter visualizado o resultado do final.

Dou grande importância a esta relação, figura espaço onde está inserida, como tamanho com o fim a que se destina. Que tudo esteja ajustado e agradável à vista e que a harmonia se enquadre, o que se passou a chamar: – “ De bom gosto!”.

           A segurança: – Nos dias de hoje, está na ordem do dia, já não se encontra uma ferramenta seja mecânica ou elétrica que não venha em grande destaque, um conjunto de normas de segurança que devem ser aplicadas. Falar delas, creio ser despropositado, mas é neste momento, me parece ser importante realçar, se nos estamos preparados para receber no nosso corpo algumas mazelas.

Claramente que não, dai termos que ter a grande capacidade de durante o trabalho usarmos as proteções adequadas, como as mesmas produzem alguns efeitos de desconforto muitas vezes desprezamos as utilizações, dai ter lido num “Site” sobre este assunto a necessidade, de termos aulas de “artes marciais”, para estarmos preparados a alguma recetividade ao desconforto. Até mesmo quando a “martelada” no dedo, a dor seja compensada pela preparação mental. Algum tempo atrás na minha mente isto não fazia sentido, hoje já recomendo.

Mesmo com todos os cuidados que devemos ter, é sempre possível alguma coisa ser imprevisível e lá acontece, a questão da roupa é outra das minhas bandeiras, ela deve ser bem adequada, larga o suficiente e de alguma resistência, e estarmos mentalizados que em qualquer momento termos uma cerimónia e lá temos que ir com um dedo entrapado.

Esta nova forma de trabalhar, não tem sido recebida muito bem pela classe operária, dado o tal desconforto, e retirando alguma sensibilidade a alguns trabalhos mais minuciosos. Mas tem baixado a sinistralidade, sobretudo a mais ligeira, com relevo para a visão e audição que se vai observando duma forma lenta mas progressiva, muitas vezes já sem possibilidades de repor algumas melhoras.

A importância deste tema, é revelante para nos manter e ser duma aparência e estado físico bem no seu exterior, aquilo que se passou a convencionar; “Bem-parecido!”

               A execução: -Chegamos ao momento da reunião entre as ferramentas e os materiais, “madeiras” o meu caso, este encontroem manusear as ferramentas para transformar a madeira em arte, é na verdade o momento em que começa a ver-se, mais em que um pau ou tabua; tosca, pela ação do humano, e o auxílio de ferramenta se vai transformando em arte.

As ferramentas devem ser muito bem estudadas, saber bem o que fazem ou o que podemos fazer com elas e sobretudo umas afinadas outras afiadas. A escolha para um trabalho, é saber para que servem e o que se pode fazer com elas, os diversos tamanhos terão que estar adequados ao trabalho que se executa, tendo sempre em conta, a textura da madeira e a sua natureza, bem assim qual o sentido das fibras. Como se pode observar cada árvore tem o seu crescimento próprio e depois de seca sofre alterações consideráveis, que um simples corte mal dado, pode acabar ali, a continuidade do trabalho, que estava estiando a fazer.

Devemos ter sempre em consideração antes de partir para um trabalho saber quais as ferramentas que vamos utilizam, é de primordial importância, bem-estar enquadrado com as texturas da madeira.

O primeiro detalhe, é a moldagem da madeira ao desenho que devemos ter por perto e de fácil consulta, tanto para as medidas como ir observando a moldagem que está no desenho, para não nos afastarmos do projeto. É importante adquirir alguma destreza, para que muitas vezes conseguir melhorar o que inicialmente se estabeleceu. Se não conseguir o melhor é seguir o padrão.

A recomendação-mãe é: -Não deveram iniciar seja o que for sem fazer a experiência num pedaço de madeira igual “sobra”, para testar a dureza das mesmas e qual o comportamento da ferramenta que escolhemos para a realização e ajustar a pressão ou o bater adequado, consoante seja elétrica ou mecânica. Com esta recomendação evitamos muitos desgostos, de ter por de lado, algo que já consumiu muitas horas de trabalho.

Nesta fase o artesão, está a praticar atos constantes de aprendizagem, é neste verdadeiro momento em que entra em profunda meditação entre o que está a fazer e o mais íntimo e no mais profundo do seu ego. A sua opção já não vacila entre o que gosta e não gosta, entrou com a alma no que está a fazer deixou de estar em comunicação com o exterior.

Quanto mais vai praticando, mais gosta de si e do que vai fazendo, não tem horas, esquecendo-se completamente do tempo. Sabemos que ele-tempo vai avançando, mas as horas, essas são apenas e tão só, momentos de vida de plena felicidade.

O acabamento: É a fase do embelezamento, o grande momento de aprofundar e dar relevo à madeira, “ meu caso” e tirar dela o seu encanto natural; os veios, as cores e as diferentes sombras que tem, são valores acrescidos ao nosso trabalho.

Nesta fase, temos que saber aplicar com elevado grau de eficiência, quais os acessórios se deve ter em consideração. Podemos estar em presença de fazer algum desbaste maior, aqui ter as limas de diversos grãos, para dar um aspeto mais uniforme e agradável à vista. Mas são as lixas que desempenham um papel relevante, devemos iniciar com um gão, mais grosso e ir reduzindo consoante a madeira, até ela estar, aquilo que se chama na gira “amaciar”, tornando-a lisa, macia é como a sua beleza se pode destacar.

Com esta operação, podemos dar por concluído o trabalho, ficando tal como é a madeira. Mas existe muitos produtos com os quais podemos alterar a apresentação, consoante os gostos. Desde a aplicação de produtos anti fungos ou bicho da madeira, como a utilização de vernizes para dar e melhorar um acabamento final. É interessante saber-escolher, porque o mercado está invadido com uma variedade, que muitas vezes nos podem confundir.

Creio que estar a dizer o que existe no mercado ou o que deve ser utilizado ou não, terá que ser feito por quem goste destes assuntos, que não se podem ensinar, mas terá que ser os utilizadores descobrirem por si, o que melhor ou fica melhor em determinada peça. A diferença de gostos e diferentes opiniões, produzem resultados diferentes, logo mais harmonia e bom gosto.

Sou apenas um elemento de alerta ou de informação genérica, para que o iniciado. É interessante que também comece a sentir e entrar com o sua aprendizagem e a por em pratica o conhecimento, na feitura e na procura dos materiais.

O acabamento muitas vezes tem algumas contradições, estamos à espera de melhorar, mas não aplicamos convenientemente determinado produto e acabamos por criar uma peça, bonita mas pode ter um final infeliz. Daí não entrar rapidamente no acabamento final, sem um reflexão sobre e de que maneira como se irá dar o toque final.

A Obra: – Pouco posso acrescentar a esta dica, talvez um texto de ordem mais poético venha a ornamentar tudo o que ficou para traz dito:

“ O madeiro tosco, desuni-forme, sem jeito ou qualquer graça, encontrado na mata sujeito às intempéries, à espera de apodrecer, deixado pelo madeireiro, que nem para lenha servia, dado o aspeto difícil de manusear. Um homem vulgar mas de sentimentos, reconhece quão valor no mesmo foi encontrado, levando consigo para lhe fazer companhia. Eis senão quando olha para ele, e nele vê a mais bela escultura, que alguma vez viu ou sonhou; arregaçou as mangas da camisa, e colocou as mãos nas apropriadas ferramentas e iniciou a sua tarefa.

Primeiro, limpa o troco tirando as partes não necessárias, dando-lhe formas, em seguida rasga-lhe os membros, molda-lhe e alisa-lhe os pés e as mãos, faz a cintura e cria-lhe o tronco, por fim talha-lhe a cabeça, nasce cabelo, abre os olhos, afila-lhe o nariz, simboliza a boca e o detalhe dos lábios, veste-lhe um manto simples mais requintado gosto, pouco a pouco, podemos ver a escultura esbelta, fina, agradável à vista e apreciada, talvez mais, a imagem sagrada e pronta para colocar num altar. “

Certamente que é esta imagem, mais aproximada que tenho onde se simboliza o que o artesão é capaz de fazer …a sua paixão é transformar criando, onde não havia nada, passou a existir.

 

FIM

Sobre orlandonesperal

Autodidacta, futurólogo, tendo como o principio, que a mente é o local donde nasce o mundo novo. Ao controlar os pensamentos está a controlar o seu destino.
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Uma resposta a O Vicio do Artesão Orlando Nesperal

  1. Com este capitulo, terminou os temas que fazem parte do ” OVicio do Artesão”, espero a vossa paciência.
    Orlando Nesperal

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