Diante deste espectáculo de gente que acorre a um cruxificado desde há tantos séculos e de todas as partes do mundo, surge a pergunta: Trata-se só de um homem grande e benéfico ou de um Deus? Tu mesmo deste a resposta, e quem tiver os olhos não vedados por preconceitos e ávidos de luz aceita-a.
Quando Pedro proclamou: “ Tu és Cristo o Filho de Deus vivo”, não só aceitaste esta confissão, mas premiaste-a. Reivindicaste sempre para Ti aquilo que os judeus julgavam reservado a Deus. Com escândalo seu perdoaste os pecados, disseste-Te Senhor do Sábado, ensinaste com autoridade suprema, declaraste-Te igual ao Pai.
Por mais que uma vez tentaram matar-Te como blasfemador, porque Te dizias Deus. Finalmente quando Te prenderam e levaram diante do Sinédrio, o Sumo- Sacerdote perguntou-Te solenemente: “És ou não o Filho de Deus?”. Tu respondeste: “Sou, e ver-me-eis sentado à direita do Pai”. Aceitaste a morte antes que desdizer e renegar esta Tua essência divina.
Escrevi, mas nunca fiquei tão descontente ao escrever como desta vez. Parece-me omitido o melhor daquilo que se podia dizer de Ti; disse mal aquilo que se devia dizer muito melhor. Resta uma consolação: O importante não é que uma pessoa escreva sobre Cristo mas que muitos amem e imitem a Cristo.
E, graças a Deus – apesar de tudo – isto acontece ainda.
Maio de 1974
Albino Luciani em “Ilustríssimos Senhores”.