Trindade Coelho nasceu em Mogadouro no dia 18 de Junho de 1861 e decidiu viver até 1908.
Foi escritor, jurista e político.
Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Foi nomeado Delegado do Procurador Régio no Sabugal e em Portalegre. Em 1895 foi nomeado Juiz em Lisboa.
Viajou até Cabo Verde para defender 33 presos políticos. Conseguiu libertar os presos. Foi um sucesso que lhe conferiu mais prestígio como advogado.
Trindade Coelho foi um magistrado íntegro, corajoso e sempre amigo do povo. Colaborou nas campanhas pela educação popular.
Fundou as seguintes publicações: “Porta Férrea”, “Panorama Contemporâneo”, “Gazeta de Portalegre”, “Comércio de Portalegre” e a “Revista Nova”.
Colaborou em jornais e revistas: “Portugal”, “Novidades” e “Repórter”.
Utilizando os pseudónimos Belisário e José Coelho, colaborou em “O Imparcial”, “Tirocínio”, “Jornal da Manhã”, “O Progressista”, “Beira e Douro”.
Da sua bibliografia, destacam-se as obras: “Manual Político do Cidadão Português”, “O ABC do Povo”, “Folhetos para o Povo”, “Os meus Amores”, “In Illo Tempore”, “Livro de Leitura”, “Autobiografia e Cartas”, “O Senhor Sete”, “O Desajeitado”, “A Lareira”, “Abyssus-Abyssum”.
Na obra literária do escritor sobressai a vivacidade dos diálogos e a descrição da paisagem campesina.
Nesta homenagem a Trindade Coelho, no dia do seu aniversário, um excerto do livro “In Illo Tempore”:
“In illo tempore – no tempo em que João de Deus andava em Coimbra, havia na Lusa Atenas, que é terra de mulheres bonitas, duas senhoras muito formosas, que eram irmãs, – uma chamada Raquel e a outra Cândida. A Raquel, principalmente, diz que era uma divindade; e a mocidade da Academia, sobretudo os poetas, bebiam os ares por ela! Não era branca nem morena; tinha uma cor de bronze, de uma suavidade encantadora, nariz grego, e então uns olhos extraordinários, aveludados, muito brilhantes e pestanudos, que eram a perdição da rapaziada! Os pretendentes eram assim – aos cardumes… E a cabeça de rapaz sobre a qual esses olhos admiráveis pousassem por um instante, mesmo casualmente, era cabeça perdida; porque entrava logo de andar à roda, como se fosse uma ventoinha, e o menos que lhe acontecia era rebentar numa catadupa de versos – que nem sempre, diga-se a verdade, eram condignos da inspiradora…
Ora o João de Deus pertencia à ala dos namorados dessa divindade, se bem que nunca lhe falasse; e tanto, que a majestosa Raquel ficou sendo para ele uma espécie de musa, como para o Camões a Catarina, para o Dante a Beatriz , a Laura para o Petrarca, para Miguel Ângelo Vitória Colonna, etc.,etc. Fez-lhe muitos versos, e aquela poesia A Vida, que a não há mais linda em todo o mundo; e fez-lhe depois, quando ela morreu, aquela elegia que tem o seu nome – Raquel –uma das melhores coisas que o génio humano tem produzido, e que João de Deus, por sinal, improvisou numa tourada, alheio, absorto, estranho ao mais formidável chinfrim que se tem desencadeado numa praça de touros! Soubera a notícia da morte quando ia para lá; chegou e amodorrou-se a um canto: e quando se deu fé que a praça de touros tinha desabado, revolvida, de baixo para cima pelo furacão da rapaziada, foi dar com ele o João Vilhena, o seu fiel Acates, no mesmo lugar onde o deixara, e que por milagre tinha escapado! Pegou-lhe por um braço e levou-o dali, como se estivesse doido ou a dormir… (…) ”