Luísa Costa Gomes nasceu em Lisboa no dia 16 de Junho de 1954.
Escritora, dramaturga, cronista, guionista, tradutora e encenadora, é licenciada em Filosofia, pela Universidade de Letras de Lisboa.
Foi professora do Ensino Secundário durante vários anos.
Algumas das obras que escreveu: “13 Contos de Sobressalto”, “O Gémeo Diferente”, “Contos Outra Vez”, “O Defunto Elegante”, “Olhos Verdes”, “Ilusão (ou o que quiserem), “Império do Amor”, “Nunca Nada de Ninguém”, “Clamor”, “Duas Comédias”, “O Último a Rir”, “O Céu de Sacadura”.
Escreveu os libretos de algumas óperas, das quais se destaca “Corvo Branco”, de Philip Glass e Robert Wilson, apresentada durante a Expo 98, em Lisboa.
Encenou a peça “O Príncipe de Homburg” de Heinrich Von Kleist.
É autora de vários programas de rádio e televisão.
Colaborou nos jornais “Independente”, “Público” e “Diário de Notícias”.
Recebeu os Prémios: D.Dinis da Fundação da Casa de Mateus, Máxima de Literatura; Fernando Namora e Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
É directora da revista “Ficções”.
Participa no Programa Artes na Escola, na Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular.
Traduz filmes, teatro e ficção.
Nesta homenagem no dia do seu aniversário, um excerto da obra: “Olhos Verdes”:
“Eva Simeão esconde as duas latas de bolachas debaixo da cama. Procura lembrar-se do sítio onde arrumou a lanterna. Benjamim fora claríssimo quanto à necessidade da lanterna. O rádio portátil estava na mesa-de-cabeceira, como sempre, só lhe faltavam as pilhas de reserva. O extintor e o estojo de primeiros socorros tinha-os inscrito na lista das próximas compras prioritárias. Com as duas garrafas de litro e meio de água e as quatro latas de conservas, ficou pejado o espaço por baixo da cama.
Eva passeou-se então pelo apartamento, considerando os objectos expostos do ponto de vista de uma emergência. Em caso de tremor de terra, qual deles cairia primeiro? Era uma pergunta de difícil resposta a partir de certa altura. Outra pergunta de difícil resposta era a seguinte:
– Qual é a parede mestra da casa em que vivo?
Dizia-se que a parede mestra era a última a cair.
Isis a melhor amiga ficaria talvez satisfeita ao saber que os dias de Eva não eram um mar de rosas. Deles passava muitas horas a conversar imaginariamente com João-Baptista e essas eram as horas boas. O director de marquetingue que habitava a imaginação de Eva era substancialmente e qualitativamente diverso do João-Baptista tal como o conhecemos. Desde logo, o tom do cabelo era mais claro, os olhos mais luminosos e sem pés-de-galinha, a pele mais branca e igual. Sabendo, por exemplo, que o cabelo é uma expressão privilegiada da personalidade e que os cabelos vigorosos e brilhantes, em plena forma, traduzem uma saúde boa e um grande dinamismo, conclui-se que o João-Baptista que Eva imaginava era mais vivo e mais dinâmico do que o, por assim dizer, real. Este vigor, no entanto, tinha excepções. O director de marquetingue em abstracto era fraco, romântico, dependente das palavras e das acções de Eva. Ela, nos diálogos brilhava pela inteligência e pela agudeza do espírito, a prontidão dos repartés, tudo o que torna enfim as mulheres fatais. João-Batista arrebanhava o troféu de melhor actor secundário”.