Ferreira de Castro nasceu em Ossela, Oliveira de Azeméis, no dia 24 de Maio de 1898 e viveu até 29 de Junho de 1974.
Escritor e jornalista, é um dos autores com mais obras traduzidas em todo o mundo. A sua escrita manifesta uma inquietação humanista e social, sendo considerado o fundador do neo-realismo literário. Foi opositor ao regime ditatorial e defensor dos direitos humanos.
Com 12 anos de idade emigrou para o Brasil. Passou a viver no Seringal Paraíso, na Amazónia, onde trabalhou durante 4 anos, em pleno período da borracha, fixando-se depois em Belém do Pará.
A experiência vivida na Amazónia inspirou-o a escrever “A Selva”, a sua obra-prima, traduzida para diversas línguas e adaptada ao cinema.
Publicou o primeiro livro “Criminoso por Ambição”. Colaborou em alguns jornais locais. Fundou o semanário “Portugal”.
Regressou a Portugal em 1919. Fundou a revista “A Hora” e o magazine “Civilização”. Colaborou no “ABC”, “O Século”, “O Tempo”, “Imprensa Livre”. Foi director do jornal “O Diabo”.
Algumas das suas obras publicadas: “Emigrantes”, “Alma Lusitana”, “Rugas Sociais”, “Carne Faminta”, “O Êxito Fácil”, “Sangue Negro”, “A Boca da Esfinge”, “A Epopeia do Trabalho”, “O Drama da Sombra”, “Sendas de Lirismo e de Amor”, “Terra Fria”, “A Volta ao Mundo”, “A Tempestade”, “Os Fragmentos”, “A Curva da Estrada”, “O Instinto Supremo”, etc.
“As Maravilhas Artísticas do Mundo”, publicadas em dois volumes, foram uma das mais importantes obras de Ferreira de Castro, ocupando-o durante oito anos.
Recebeu os seguintes prémios: Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa; Prémio Catenacci da Academia de Belas Artes de Paris, pela publicação de “Maravilhas Artísticas do Mundo”; Prémio Internacional Águia de Ouro do Festival do Livro de Nice; Prémio da Latinidade, atribuído pela Academia do Mundo Latino. Foi homenageado em Paris pela Societé des Gens de Lettres.
Em 1939 fez uma viagem à volta do mundo.
Em 1968, a União Brasileira de Escritores apresentou a candidatura ao Prémio Nobel de Ferreira de Castro juntamente com Jorge Amado.
Foi presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores.
Em Oliveira de Azeméis foi erguido um monumento em sua honra.
Em Sintra está situado o Museu Ferreira de Castro, onde se encontra o seu espólio, doado ao Povo de Sintra.
Texto autobiográfico de Ferreira de Castro:
“Quando vinha com minha mãe ao mercado de Oliveira de Azeméis, passava por uma meia porta e via lá uma máquina a trabalhar, a tirar o jornal; aquilo parecia-me uma obra de Deus e o meu sonho todo, tinha 9 anos, seria escrever umas coisas para aquele jornal, para a «Opinião». Se alguém podia ter feito a felicidade de uma criança, seria aquele jornal.” (…)
“…Na minha aldeia fiz a instrução primária; no seringal, lia todos os livros que conseguia encontrar, o que estava muito longe de ser suficiente. Eu sou autodidacta. Não posso mesmo dizer que estudei no que isto significa de disciplina, pois tudo o que aprendi, desde as línguas que me permitissem conhecer o espírito dos outros povos, até à Sociologia e a Filosofia, que tanto me interessavam, o fiz sem esforço… e graças a isso, todas as minhas incursões no mundo do conhecimento humano foram agradáveis em vez de penosas”.
Nesta homenagem no dia do seu aniversário, um excerto do livro “A Selva”:
“E por toda a parte o silêncio. Um silêncio sinfónico, feito de milhões de gorjeios longínquos, que se casavam ao murmúrio suavíssimo da folhagem, tão suave que dir-se-ia estar a selva em êxtase.
Às vezes, era certo, uma imprevista e pânica restolhada de folhas e asas levava Alberto a parar e a agarrar-se, instintivamente, ao braço do companheiro.
– É uma inhambu – explicava Firmino, sorrindo.
Mais adiante, um lagarto, correndo repentinamente sobre a folhagem morta, de novo o galvanizava.
Mas o silêncio volvia. E, com ele, uma longa, uma indecifrável expectativa. Dir-se-ia que a selva, como uma fera, aguardava há muitos milhares de anos a chegada de uma presa maravilhosa e incognoscível.” (…)
“O mal não está apenas no que a censura proíbe
mas também no receio do que ela pode proibir.”
Ferreira de Castro