Cesário Verde nasceu em Lisboa no dia 25 de Fevereiro de 1855 e viveu até 1886.
Frequentou durante poucos meses o Curso Superior de Letras da Universidade de Lisboa. Desistiu e foi trabalhar para uma loja de ferragens propriedade de seu pai, na Rua dos Bacalhoeiros.
No entanto a sua vocação poética impedia-o de estar intelectualmente inactivo. Começou a publicar os seus poemas no Diário de Notícias e noutros jornais.
Quando adoece com tuberculose, muda-se para casa de família em Linda-a-Pastora.
O seu grande amigo Silva Pinto, que fora seu colega na Universidade, publicou a título póstumo “O livro de Cesário Verde”, que reúne as poesias do autor.
Sobre a sua estética literária e as características temáticas da sua poesia não cabe neste pequeno texto referi-las. No entanto podemos tomar conhecimento do seu pensamento através dos seguintes depoimentos:
– Eduardo Lourenço: “O universo de Cesário não é um universo pensado, crítico, à maneira de Eça (…), é um mundo sentido, palpado e ao mesmo tempo transcendido pelo sonho, que é desejo de um lugar outro, de uma humanidade outra que inconscientemente o conforta na sua admiração pela força, pela saúde e energia que a memória e o sangue lhe denegam.”
– Jacinto do Prado Coelho: “Poeta do imediato, Cesário é também um poeta da memória…”
– Óscar Lopes: “ É, porém, em «O Sentimento dum Ocidental» (…) que o poeta ultrapassa com maior fôlego estrutural o seu naturalismo positivista, no mesmo momento em que parecia, aliás, consumá-lo em poesia. (…) Cesário não se desprende da imanência aos dados da percepção sensível, mas articula-o com um modo inteiramente novo, precursor do Cubismo ou Interseccionismo. Para Cesário, como depois para Pessoa, o eu, o tu, o nós, o tempo irreversível e as dimensões reversíveis do espaço, as coisas mais simples constituem problemas e despertam ânsias que a poesia apreende antes mesmo de se formularem em teoria.”
– Mário Cesariny presta homenagem a Cesário Verde neste poema:
Aos pés do burro que olhava o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas
Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país
Pensamentos e frases de Cesário Verde:
– “Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.”
– “Não me sinto bem em parte nenhuma e ando cheio de ansiedade de coisas que não posso nem sei realizar.”
– “Eu não sou como muitos que estão ao meio dum grande ajuntamento de gente completamente isolados e abstractos. A mim o que me rodeia é o que me preocupa.”
– “Os caluniadores são como o fogo que enegrece a madeira verde, não podendo queimá-la.”
– “O céu já foi azul, mas agora é cinza . E o que era verde aqui já não existe mais.”
Nesta singela homenagem a Cesário Verde, recordemos o poema:
“Cinismos”
Eu hei-de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.
Hei-de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário,
E ser menos que um Judas empalhado.
Hei-de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.
Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei-de olhá-la dum modo tão nervoso,
Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há-de chorar, chorar enternecida!
E eu hei-de, então, soltar uma risada.