A viagem a pé até à Casa de Acolhimento durou uma hora. A freira não pronunciou uma palavra durante o percurso. Chegadas à Casa de Acolhimento, ordena a Maria que se sente num banco de ferro forjado, bastante incómodo, colocado no átrio de entrada, e esperar. Esperar silenciosamente.
Duas horas depois é levada ao gabinete da Madre Superiora. Fica de pé a cerca de um metro de distância da secretária em pau-santo, atrás da qual se senta uma mulher de idade indefinida, esguia, de aspecto austero e um olhar fulminante emergindo por cima dos óculos redondos colocados a meio do nariz.
– Eu sou a Madre Superiora. Quem manda nesta Casa de Acolhimento sou eu. Há sete freiras que respeitam as minhas ordens e têm a missão de vos educar. Não admito atrasos em nenhuma actividade desta Casa. Não tolero faltas nos rituais religiosos. As freiras são consagradas a Deus. E vós tendes de aceitar a Sua vontade. Reza por teres a sorte de entrares nesta Casa de Acolhimento. Aqui não se brinca. Exijo trabalho e orações de louvor a Deus. Não quero ouvir risotas parvas nem conversas idiotas entre vocês. Tu estiveste doente e eu não quero aqui gente doente. Vais continuar a tomar os medicamentos que enviarão do Hospital. Por isso trata de te cuidares. Agora, vai.
Maria sai convencida que não haverá diferenças entre o Orfanato e a Casa de Acolhimento. A postura da Madre Superiora indicia que as freiras são iguais em todo o lado.
(Continua)
José Eduardo Taveira