Durante um mês, Maria viveu tormentos que nunca esquecerá. O quarto dos castigos é horroroso. Apenas um olho-de-boi gradeado na parte superior de umas das paredes permite que uma ténue réstia de luz solar penetre na cela. Uma tarimba e um colchão esburacado servem de cama. Duas mantas velhas e bafientas protegem com insuficiência do frio húmido do Inverno. A um canto, dois baldes, um com água e outro para usar como latrina. Ambos são substituídos de três em três dias. Pendurada num prego ferrugento, uma toalha que nunca foi trocada. As refeições, constituídas de pão seco e macarrão cozido, são transportadas em marmitas amolgadas, negras, gordurosas e repelentes. Passou fome e sede, até não sentir vontade de se alimentar. A escuridão da cela, a humidade e o frio provocaram no seu consciente a visão de um corpo inexistente, insensível e exânime. Deitada na tarimba, de mãos coladas ao peito, olhos cerrados, sugere a imagem de um ataúde esquecido e desprezado à espera que o tempo o devore concedendo a Maria a felicidade eterna.
(CONTINUA)
José Eduardo Taveira