EXCERTO DA HISTÓRIA Nº 17
Carlito Falácio começou a interessar-se por futebol animado pelo seu pai, que ambicionava viver à custa dos rendimentos do filho, aliás como toda a família. Ainda mal sabia andar e já o obrigava a chutar numa bola maior que o miúdo.
– Tens de ser futebolista, meu filho. Não és menos que os outros. Não te obrigo a estudar, porque não é preciso. Tens é de jogar à bola, estás a compreender, meu filho?
A mãe não concordava com a ideia do marido e pôs o miúdo na escola. E o Carlito foi crescendo a sentir todos os dias a mesma pressão:
– Tens de ser jogador de futebol, meu filho. O teu futuro, e vá lá, o nosso, passa pelo teu sucesso. Olha para os craques que estão cheios de dinheiro, filho. Olha que o teu pai sabe do que fala. O teu pai não é parvo, sabe bem do que fala.
Carlito foi obrigado a ver todos os jogos de futebol na televisão. E o pai assinalava os jogadores que ganhavam muito dinheiro, tinham casas e carros topo de gama e andavam com miúdas que pareciam bonecas insufláveis. Enfim, coisas que a Carlito lhe davam algum entusiasmo. Foi inscrito como sócio num grande Clube da 2ª Liga e começou a treinar na equipa de futebol júnior.
– Meu filho, marcar golos é que dá dinheiro. Todos os clubes do mundo vão querer contratar-te. Acredita no teu pai, que sabe muito bem o que diz, rapaz! Carlito começou a treinar mas era uma desgraça. (…)
JOSÉ EDUARDO TAVEIRA