O funeral do rei foi intenso e impressionante.
A águia – ainda com uma asa ferida – achou um tanto indecoroso o modo como a viúva, a rainha Leopardo, se aproximava sub-repticiamente do crocodilo, segredando-lhe algo ao ouvido, colando quase os lábios à sua pele rugosa. (É verdade, o crocodilo fora convidado para o funeral. Seria ele, aliás, o novo rei: algum animal se atreveria a pôr em causa o seu direito!?) Mesmo o chacal, que observava, à distância, aquele jogo de sedução entre a rainha e o réptil, não se atrevia a intervir; não se atrevia a gritar, por exemplo: «Que escândalo! Diante do cadáver!»
O rei leopardo sucumbira ao efeito de um veneno.
A águia pensou:
«Primeiro uma bomba nos aposentos. Depois, veneno na sua bebida. O assassino tem de ser alguém muito próximo do rei, com acesso ao quarto e à comida…»
O chacal – que tinha socorrido a águia, mas quem sabe se não após ter disparado o tiro – ou… a viúva…!?
Havia um pormenor: a bomba tinha fracassado. O chacal não era incompetente – não a esse ponto!
De repente, percebeu tudo.
A verdade estivera sempre diante dos seus olhos treinados. Sempre, sempre, sempre, sempre. [E, se pensarmos bem no assunto, também diante dos olhos dos leitores – como raio não percebemos, todos, logo?]