PRÉMIO CAMÕES – 2010 – FERREIRA GULLAR

FERREIRA GULLAR -CAMOES

Ferreira Gullar (São Luís, Maranhão, Brasil, 1930).

Poeta, dramaturgo, tradutor e ensaísta recebeu, numa cerimónia realizada no Rio de Janeiro, Brasil, o Prémio Camões.

Instituído pelos governos português e brasileiro em 1988, o Prémio Camões distingue, anualmente, um autor que, pelo conjunto da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.

Gullar foi um dos subscritores do “Movimento Neoconcreto”, que surgiu como reacção ao concretismo ortodoxo.

Foi o autor de dois dos maiores poemas brasileiros: Poema Sujo e Uma Fotografia Aérea.

 

Palavras de Ferreira Gullar:

Somos todos irmãos, não porque dividamos, o mesmo teto e a mesma mesa: divisamos a mesma espada, sobre nossa cabeça.

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede nem cheira

Ferreira Gullar

 

 

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