Reinaldo Ferreira (Barcelona, Espanha, 1922 – Lourenço Marques, Moçambique, 1959).
A sua poesia enquadra-se na tendência presencista, notando-se também elementos que a ligam ao simbolismo e ao decantismo.
A colectânea dos seus poemas, publicada, postumamente, em 1960, com o título Poemas, mereceu elogios de vários poetas.
José Régio, escreveu sobre Reinaldo Ferreira: “é a revelação de um grande poeta português, uma obra que, mesmo chegando até nós fragmentada, pela sua densidade substancial e a sua beleza formal já entrou como peça de rara qualidade no tesoiro da nossa poesia.”
Uma casa portuguesa
Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa coa gente.
Fica bem essa franqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho a alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera…
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela…
Basta pouco, poucochinho pra alegrar
uma existéncia singela…
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tijela.
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho a alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera…
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
Reinaldo Ferreira