Reflexões
AS MINHAS DÚVIDAS ETERNAS
Afinal, (e quanto ao estado calamitoso a que chegámos, enquanto nação soberana), eu interrogo-me: “Porquê?” E, seguindo esta linha de pensamento, na ânsia de descortinar os maldosos rostos dos inimigos de Portugal, obrigo-me a interiorizar que, os verdadeiros e únicos inimigos de Portugal, afinal, são, simplesmente… os portugueses!
Não temos inimigos externos por uma única razão, entre nações soberanas não existem amizades ou inimizades, existem sim interesses, (ainda que disfarçados de comunidade económica, aparentemente solidária, e com direitos iguais para todos os seus membros, aos quais simpaticamente chamam de iguais entre si), e cada qual cuida, o melhor que sabe e pode, dos seus interesses, em conformidade com as competências intelectuais de que dispõe e soube criar; apenas isso, meus amigos e companheiros, neste eterno infortúnio, desta tão tenebrosa maldade, ou partida, (como queiram chamar-lhe), que a mãe natureza nos pregou, quando, (e quanto ao que penso), por obra do acaso, nos fez nascer em Portugal.
As nossas agruras têm origens bem definidas e, talvez, não tão complexas quanto se possa pensar; são genéticas, e assentam num individualismo exacerbado, acondicionado numa caixa que nos separa do mundo real pelo limite das nossas fronteiras, a que, com propriedade, se pode chamar “caixa da maledicência, da pequenez intelectual, da teimosia sem fundamento, e da mais profunda ignorância.” Somos um Povo sem respeito pelo outro, como resultado de uma ancestral falta de educação; os direitos humanos são uma modesta tábua rasa que se mostra ao mundo vestida e engalanada de cores garridas, para, (como é uso dizer-se), “inglês ver;”e se pouco ou nada nos preocupamos com o nosso semelhante, é com plena e escancarada safadeza que, a maioria de nós, com indiferença e completa displicência, encara esta sociedade que foi o que de melhor conseguimos construir, como a coisa mais natural e normal deste pequeno mundo. “Se nós somos assim, o que havemos de fazer?”
Faz umas dezenas de anos, (para mais de trinta), quando, no meu gabinete da construção da ampliação do complexo industrial da Quimigal, ergui por momentos os olhos dos desenhos e espreitei o exterior palas vidraças da janela; a correr na frente do edifício do escritório via-se o asfalto de uma pequena circulação de serviço e, no outro lado, (dentro do perímetro da construção), reparei no corpo de um operário, dentro de uma vala, com o tronco deitado sobre a terra. Por momentos, fiquei perplexo, mas logo os muitos afazeres me fizeram mergulhar de novo no trabalho. Mais tarde, – nesse mesmo dia, – soube que o homem tinha falecido, em consequência do aluimento das terras do lado oposto da vala. Tratava-se de um velho homem com mais de setenta anos, sem reforma, (situação normal na altura), que trabalhava como trabalhador não qualificado; no dia imediato, em conversa com a direcção da obra, soube que, afinal, o crime compensa; na verdade, o valor da multa pela não entivação das superfícies verticais da vala, era francamente inferior ao custo da entivação.
A mortandade na nossa construção civil na época era, simplesmente assustadora, quer por falta de legislação adequada, quer pelo valor das coimas. Operários caiam pelas caixas dos elevadores por falta de sinalização das mesmas, caiam de andaimes por deficiência dos guarda-costas, dos baileis, por electrocussão quando as pás escavadoras rebentavam cabos de alta tensão assentes em valas, cuja localização se desconhecia. Caiam das alturas das chaminés das construções industriais. Havia de todo o tipo de sinistros que imaginar se possa; o lucro, afinal, era (e ainda é cada vez mais), protegido pela insuficiência e ausência de justiça social do sistema, pela simples razão de que compensava pagar as coimas, em detrimento da aplicação de processos e métodos de protecção, iguais ou semelhantes aos que já eram utilizados nos outros países europeus.
Portugal foi sempre um país de desigualdades consentidas pela esmagadora maioria da sua população, eternamente mergulhada na iliteracia imposta pelo Poder, ou ausente pela ignorância e desconhecimento do que significa qualidade de vida. Em vez de uma moral assente em direitos humanos, uma caridade onde a hipocrisia da sociedade se esconde.
As ferramentas são, (no meu modesto entender), a primeira das primeiras necessidades de um Povo Soberano; elas significam os meios de produção que nos põe o pão na mesa. Por ferramentas entenda-se empresas florescentes, geridas por empresários dinâmicos e inteligentes, que investigam e inovam os seus produtos de parceria com as universidades; empresários que pagam a tempo e horas os seus impostos, o que, à partida, exclui aproximadamente oitenta e cinco por cento do nosso triste mundo empresarial. É a consciência cívica dos empresários que permite o futuro, e nunca o desperdício e o despesismo exacerbado pelas práticas políticas a que estes partidos da dita área da governação nos habituaram.
Quando Portugal entrou para a CEE, E sem que os portugueses o percebessem, o País vendeu a pataco os seus principais meios de produção; tudo foi dizimado. Louças, cristais, industria pesada; as manufacturas que tanto nos distinguiram no mundo. Pescas e agricultura, parcelas tão importantes e indispensáveis à nossa independência e sobrevivência, enquanto nação soberana com novecentos anos de História. O que ficou, do tanto que tínhamos? Ficou a imoralidade de uma justiça que sempre dividiu o nosso pequeno mundo em pobres e ricos, a parte podre e malévola do sistema feudal a que a ditadura nos conduziu, em oposição à nossa História, onde se percebe que, de feudalismo, na verdade tivemos muito pouco. Ficaram as inúmeras favelas, os inúmeros “bairros de lata” a aprisionarem as nossas cidades dentro de um anel de pobreza extrema. Ficou a ignorância e a aceitação da imoralidade e injustiça como fado imposto ao mundo lírico que acredita no destino e na predestinação. Hoje aceite como património imaterial da humanidade, o fado, como preludio que nos obriga a aceitar sem rancor um destino de insignificâncias, simboliza a indolência de um povo que nunca se reconhece tal qual na realidade é…
A Comunidade Europeia injectou milhões em projectos para o nosso desenvolvimento, que pouco soubemos aproveitar; contudo, do muito que entrou, a bondade e a clarividência do primeiro – ministro de então, o professor Cavaco Silva, achou por bem acudir à nossa via rodoviária como primeira necessidade para o desenvolvimento. No Luxemburgo, (onde muitas das habitações não dispunham de casas de banho), a primeiríssima necessidade para o futuro foi a aquisição de meios de produção, o desenvolvimento disciplinado e minucioso, estudado ao pormenor, das indústrias e do comércio. Em Portugal não. A Inteligência Nacional entregou a Industria nas mãos de empresas estrangeiras, mediante programas que consideravam isenção de impostos, acreditando que as mais-valias do conhecimento tecnológico nos seriam servidas numa bandeja, e fizeram-se estradas. Puro erro. Com o fim das isenções as empresas estrangeiras deslocaram-se para outras paragens, em busca do El Dourado da mão-de-obra escrava e sem direitos, e levaram consigo as suas tecnologias. Portugal, pela mão firme e inteligente deste brilhante Estadista, hoje Presidente da “nossa” Republica, e de todos os seus rivais Socialistas, ficou indiferente à destruição sistemática do nosso aparelho produtivo. Aceitaram o abate de barcos de pesca. Aceitaram que o nosso peixe, pescado pelos nossos vizinhos espanhóis, volta-se por via rodoviária, para ser vendido nas nossas lotas.
Hoje, e pela mão firme dos mesmos, somos uma nação sem qualquer futuro. Temos uma dita “Assembleia da Republica” onde a dignidade que distingue e é o timbre dos deputados da maioria, passa pela aceitação de bêbadas e, implicitamente, de bêbados, (de acordo com o principio que um “grãozinho na asa” facilita a verborreia do discurso fácil e inócuo, ao qual, e de uma forma bizarra e divertida, nada tenho a opor); roubamos quem trabalhou e muito fez pelo futuro do País, permitindo com os seus pesados descontos as reformas dos menos aptos, (ao que nada tenho a opor, ainda que tenha chegado a minha hora, e eu não veja o retorno do meu esforço), somos governados por miúdos imbecilizados saídos de juventudes partidárias onde reina tudo, menos alguma, ainda que pouca, experiência de vida), estamos ocupados por estrangeiros, que exigem-nos o pagamento de dívidas astronómicas que estas máfias politiqueiras fizeram, e, finalmente, tanto empresários honestos como trabalhadores dignos e esforçados, sentimos de igual modo o mesmo medo, o medo tenebroso de uma vida sem norte e sem rumo, pela mão de um sistema infernal e dantesco, estúpido, inconsequente e irresponsável; temos como timoneiro desta nação, onde infelizmente, e por desdita do destino, nascemos, o mesmo homem que, de há trinta anos a esta parte, impõe a sua lógica, o seu “tempero” politico, a uma terra onde apenas se vê dor e lágrimas.
Vamos de novo assistir, impotentes, à morte de velhotes ou jovens soterrados em valas, por falta da indispensável entivação, e isto porque o crime, em Portugal, compensa e faz parte da nossa vida colectiva. Sempre fez. Sempre foi assim. Faz parte do nosso fado que viabiliza o nosso destino.
Mas porquê, sim, porquê? Porque, enquanto colectivo, não sabemos pensar; e se não sabemos pensar, não sabemos votar, e se não sabemos votar não temos o direito de viver em democracia. Portugal dissolvesse na Europa na sua eterna qualidade de trabalhador não qualificado; espalha-se em pedaços pelo mundo. Voltamos às origens. Voltamos a exigir ao mundo o que não somos capazes de manter: a Independência e a Soberania do nosso espaço. Como eu escrevi no meu romance, vendam, (ou aluguem), ao estrangeiro o edifício da Assembleia da Republica; primeiro porque a Republica está morta e enterrada, segundo, porque esta Assembleia, como está, para nada nos serve, graças ao nosso grande estadista Cavaco, o nosso coveiro de estimação…
José Solá
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