Ramalho Ortigão nasceu no Porto, no dia 24 de Outubrode 1836 e viveu até 27 de Setembro de 1915.
Foi escritor, jornalista, professor, bibliotecário, crítico literário e cronista.
Nesta homenagem no dia do seu aniversário, excertos do livro “As Farpas”.
(…) Na política a nossa história actual é a abdicação por inépcia de todos os foros e de todas as franquias de liberdade conquistadas pela geração que nos precedeu. Vede a representação nacional. 0 nosso parlamento tem muitos defeitos, mas todos eles procedem de um vício capital, irremediável, sem cura – a incapacidade intelectual para compreender o maquinismo do mundo moderno, perceber a lei das novas evoluções sociais, e debater com perfeito conhecimento do sistema da universalidade moral que nos governa os altos interesses do tempo a que pertencemos. Com menos eloquência, com menos ardor, com menos fé que em 1836 os actuais deputados da nação vivem ainda a equilibrar as velhas dúvidas pulverulentas e desengonçadas do estabelecimento do sistema parlamentar. No entanto no resto do mundo os acontecimentos científicos, sociais e políticos precipitam-se vertiginosamente, criando transformações que os antigos tempos não viam senão de uma gestação de séculos. (…)
(…) Em Portugal sana-se a questão apagando as luzes e fechando à chave a sala das conferências democráticas. Têm os políticos portugueses alguma leve notícia do que se está passando no mundo? Ignoramo-lo. Os partidos avançados o que querem? Novas liberdades em uma Carta reformada e a máxima descentralização nos diferentes ramos da administração pública. Ora enquanto à liberdade está-se provando em cada dia que nem da que possuímos temos aprendido a usar. Enquanto à descentralização a civilização portuguesa pararia no dia em que a votassem. Quereis uma prova? Há distritos em que o número das escolas tem duplicado nos últimos anos; pois bem: o número dos alunos é igual ao do tempo em que as escolas eram de metade!”