O cinco de Outubro
Habituei-me desde muito novo a gritar vivas à República, no dia 5 de Outubro; ia pela mão de um velho republicano, (o mesmo que, nesse dia, em 1910, escalou a fachada da câmara municipal de Vila Real de Santo António, derrubou o símbolo monárquico, a coroa, e içou a nova bandeira da nossa Pátria); uma terra feita pelo querer do POVO, que as mulheres e os homens de ontem, fizeram para nós, os de hoje, novos ou velhos, todos irmanados pelos princípios sagrados da revolução de ontem: FRATERNIDADE, IGUALDADE, LIBERDADE.
Acontecia nos Restauradores, ou junto à estátua do António José de Almeida, ali para os lados do Técnico. E não eram um grupo de velhos decrépitos quem ali se juntava, sobre o olhar tenebroso dos esbirros à paisana da polícia política, os pides. Existiam crianças, como eu, levadas pelas mãos pelos avós, para receberem o testemunho dos sagrados direitos dos Homens de Bem, para mais tarde, os transmitirem às gerações seguintes. Por isso chorei, neste cinco de Outubro, eu, hoje também um velho. Chorei porque, de novo, nos querem submeter às grilhetas da escravatura, nos sufocam o espírito, nos tratam como lixo porta a dentro da nossa casa, a Pátria.
Chorei quando vi uma Cidadã, no pleno uso do exercício dos seus Direitos Constitucionais, que quis questionar o seu Presidente, ser expulsa pelos novos esbirros desta emergente ditadura reaccionária, e o homem de estatura insignificante, e moral duvidosa, que jurou a Constituição da nossa República, nem se dignou interromper o seu discurso oco e sem sentido lógico, totalmente desligado das realidades dramáticas deste injusto presente. O mesmo homem pequeno que nunca se agiganta para proteger o POVO e a Sua Constituição, muito antes pelo contrário, se acobarda e se esconde, perante a crescente e justificada ira do POVO PORTUGUÊS, ferido no mais íntimo do Seu Ser, a Dignidade do seu Bom nome, e o seu legitimo direito a uma vida com felicidade.
Amigos e camaradas: a nossa República morreu. Humilharam-nos. Temos o sagrado direito à Indignação e à revolta!
Abaixo os tiranos! Viva a República!
José Solá