Isabel da Nóbrega nasceu em Lisboa no dia 26 de Junho de 1925.
É escritora, jornalista, tradutora e cronista. Escreveu mais de três mil crónicas para a imprensa e a rádio.
Traduziu autores ingleses e franceses.
Fez parte do grupo fundador do jornal “A Capital”. Para além deste, escreveu para o “Diário de Lisboa”, “O Primeiro de Janeiro”, “Jornal do Fundão”, “Casa e Decoração” e “Vida Mundial”.
Colaborou, na RTP, na Antena 1, Antena 2 e RDP Internacional. Nesta última apresenta o programa “O Prazer de Ler”, transmitido de segunda a sexta-feira.
Algumas das suas obras publicadas: “Os Anjos e os Homens”, “O Filho Pródigo ou O Amor Difícil”, “Viver com os outros”, “Quadratim”, “Rama, o Elefante azul”, “Cartas de Amor de Gente Famosa”, “Solo Para Gravador”, “As Magas”. Publicou antologias de Fernando Pessoa e Luís de Camões.
Fez parte da direcção da Associação Portuguesa de Escritores.
Criou o “Prémio Cidade de Lisboa” para romance.
Fundou o “Instituto de Apoio à Criança”.
Recebeu as seguintes distinções: Prémio Camilo Castelo Branco, Prémio Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, Grande-Oficial da Ordem de Mérito. Foi condecorada com a medalha de Mérito Cultural.
Nesta homenagem a Isabel da Nóbrega no dia do seu aniversário, um excerto do livro “Viver com os Outros”:
“Aquecer a água para o Henrique tomar de manhã. Tanto copo, senhores! Mas correu tudo bem. Ainda no outro dia era o calor do quarto do hospital. Que bom poder festejar o teu regresso a casa, ao trabalho, à vida. Aqueles longos, intermináveis, dias e noites, o teu rosto suado, emaciado, interrogativo. Hoje rodeado da “equipe de choque”. É bom receber à nossa mesa, dar um jantar cozinhado por nós com alegria – oh, a alegria… Em dada altura parecias ter desistido de lutar, parecias resvalar devagarinho para o outro lado. Eu gritava-te como em sonhos, sem ouvir a voz, que não me deixasses, que não me deixasses. Agora foram-nos de novo entregues as nossas noites, os nossos dias. A água ao lume. Se me faltasses, tu que és o meu esteio, que seria de mim? E a outra angústia, que nunca sei descrever-te, ou que nunca sabes ouvir, porque brincas com ela. Onde estou, que sou eu, para onde vou? Três planos de realização, o plano pessoal, o plano social mundano e o plano social-social. Eu sinto-me humanamente realizada, mas sem uma vocação, que me defina nem uma profissão que me justifique, qual a minha contribuição no plano social? Nem todos podem intervir na vida do seu tempo, mas todos têm obrigação de contribuir. Ainda não ferve. Que seria hoje a Mariana sem o seu diploma. Está apta para assumir responsabilidades, uma carreira. Mas, coitada, quantos mal-entendidos. Mal-entendido. Malentendu. Camus. O Camus explica na peça que para evitar mal-entendidos é preciso não usar artifício. “Se o homem quiser que o reconheçam, diga simplesmente quem é”. – Isso era bom, era. Mas nunca ninguém nos reconhece. Mesmo quando dizemos quem somos. Tu próprio, Henrique…desconfiaste, descreste de um amor que se te oferecia em bloco… Ferveu. Thermos. Copo. Frasco. Colher de chá. Tudo na bandejinha. Permanente esta interrogação. Não me agarro a certezas. Estou sempre pronta a rever as minhas ideias. Mas não me integro em nenhum meio. Não lhes pertenço. Porquê? A sensação, por vezes, de me desintegrar…Oh, Henrique…”
– Pronto. A bandejinha. Afasta o candeeiro.
– Lá fora, apagaste a luz, amor?
– Apaguei.
– E fechaste o gás, meu amor?
– Sim, fechei.
-Mas há uma porta que range… Tinha de ser…
– Eu vou fechá-la, amor, eu vou já ver. – Era a porta da varanda. Abri-a de par em par. A fresca noite entrou. É noite. É Junho, amor, e estamos vivos. E não estamos sozinhos. Oh, esta alegria de não estarmos sós”.