São os livros uma mercadoria de transacção comercial, como qualquer outra? Digo que a actividade comercial não só existe, como é indispensável; agora, comparável com qualquer outra, aí, discordo por completo. Enquanto veículos de transmissão do conhecimento experimental que preside, ou está nas origens dos diversos modelos de Civilização, ensaiados e postos em prática pelos homens, no decorrer dos milénios, os livros desempenharam sempre a “estrada” que leva as ideias ao porto ao lado, por mais distante que ele se situe.
Em consequência, os livros tiveram também a sua faceta de objecto infernal, coisa do demo, e foram, tal como na Idade Média sucedeu com todos os que pensavam diferente, ou experimentavam novas “estradas,” condenados a arder nas fogueiras; privilégio foi, (por serem matéria sem vida), não sentirem a dor ou a raiva.
Os livros foram pois, e pelos mais diversos motivos, lançados às chamas, mas sempre tardiamente, ou seja, depois das ideias impressas no papel se terem “entranhado” nas cabeças dos homens. E quem assassinou os livros, como se queimar papel contivesse de forma irreversível o pensamento humano? Atrevo-me a concluir que foram todos os que, na ânsia de se tornarem donos do único bem que nasceu livre e que nunca será escravo, se quiseram livrar do incómodo das ideias dos outros, desde os mentores das raças superiores, passando pelos mandantes religiosos, e, hoje, pela alta finança, que finalmente começa a perceber que, por muito que se esforce, vai estar sempre aquém dos homens, porque foi deles que nasceu.
Hoje, por imperativos de vária ordem, (espaço, principalmente), as editoras por esse mundo fora queimam toneladas de livros; hoje, os livros significam um desperdício inconcebível e inadmissível do meio ambiente, mas também continuam a ser a tal “estrada” que nos projecta mais além. Como compatibilizar a não destruição do meio ambiente com a cultura? Faz parte do nosso prazer entrar numa livraria e consultar livros ao acaso, até que seleccionamos, ou achamos o que queremos, muitas das vezes por simples acaso. Como continuar a harmonizar o prazer de manusear o livro com a protecção dos equilíbrios ambientais? Com imaginação e bom senso. Aqui lhes deixo uma sugestão, tanto aos editores, como aos livreiros.
Experimentem criar livrarias onde se consultam e se escolhem os livros, e onde se compram e nos enviam para casa os exemplares escolhidos?
E já agora, como estou com a” mão na massa, ” porque não perceber que o negócio do livro é muito mais do que um simples negócio, e voltar a seleccionar os escritores através de conselhos de leitura, como sempre se fez, dignificando assim a profissão de Editor e separando o trigo do joio? É que é urgente que se perceba de vez que vaidade é vaidade e escritor é escritor.
De um lado temos quem publica por vaidade de ter um livro editado, e quem publica apenas porque lhe pagam, sem uma ponderação séria dos conteúdos, e sem respeito por quem consome, e do outro lado, temos quem tem vocação e talento, e não é editado porque não tem dinheiro nem nome.
Contra mim falo. Possivelmente perdia em definitivo esta mania de escrever livros atrás de livros, que ficam tristinhos, com a lágrima ao canto do olho, a atravancarem-me a casa, mas como leitor ficava a ganhar, porque o mundo, e o meu país em particular, voltavam a ter escritores, dos bons, dos que são seleccionados pelo conteúdo e pelas mensagens, pelas Ideias e pela poesia da prosa, e nunca por terem dinheiro ou terem apenas nome, o nome que o dinheiro dá, como se escrever fosse um titulo de barão, conde ou duque de qualquer coisa, desses que se compravam aos reis falidos ou gananciosos no antigamente; ou será que os negócios e os lucros são os actuais reis do mundo? Por favor, condenem-me a mim, e deixem que o mundo e este país voltem de novo a ter escritores, porque bem necessitados de ideias novas estamos…
José Solá
São os livros uma mercadoria de transacção comercial, como qualquer outra? Digo que a actividade comercial não só existe, como é indispensável; agora, comparável com qualquer outra, aí, discordo por completo. Enquanto veículos de transmissão do conhecimento experimental que preside, ou está nas origens dos diversos modelos de Civilização, ensaiados e postos em prática pelos homens, no decorrer dos milénios, os livros desempenharam sempre a “estrada” que leva as ideias ao porto ao lado, por mais distante que ele se situe.
Em consequência, os livros tiveram também a sua faceta de objecto infernal, coisa do demo, e foram, tal como na Idade Média sucedeu com todos os que pensavam diferente, ou experimentavam novas “estradas,” condenados a arder nas fogueiras; privilégio foi, (por serem matéria sem vida), não sentirem a dor ou a raiva.
Os livros foram pois, e pelos mais diversos motivos, lançados às chamas, mas sempre tardiamente, ou seja, depois das ideias impressas no papel se terem “entranhado” nas cabeças dos homens. E quem assassinou os livros, como se queimar papel contivesse de forma irreversível o pensamento humano? Atrevo-me a concluir que foram todos os que, na ânsia de se tornarem donos do único bem que nasceu livre e que nunca será escravo, se quiseram livrar do incómodo das ideias dos outros, desde os mentores das raças superiores, passando pelos mandantes religiosos, e, hoje, pela alta finança, que finalmente começa a perceber que, por muito que se esforce, vai estar sempre aquém dos homens, porque foi deles que nasceu.
Hoje, por imperativos de vária ordem, (espaço, principalmente), as editoras por esse mundo fora queimam toneladas de livros; hoje, os livros significam um desperdício inconcebível e inadmissível do meio ambiente, mas também continuam a ser a tal “estrada” que nos projecta mais além. Como compatibilizar a não destruição do meio ambiente com a cultura? Faz parte do nosso prazer entrar numa livraria e consultar livros ao acaso, até que seleccionamos, ou achamos o que queremos, muitas das vezes por simples acaso. Como continuar a harmonizar o prazer de manusear o livro com a protecção dos equilíbrios ambientais? Com imaginação e bom senso. Aqui lhes deixo uma sugestão, tanto aos editores, como aos livreiros.
Experimentem criar livrarias onde se consultam e se escolhem os livros, e onde se compram e nos enviam para casa os exemplares escolhidos?
E já agora, como estou com a” mão na massa, ” porque não perceber que o negócio do livro é muito mais do que um simples negócio, e voltar a seleccionar os escritores através de conselhos de leitura, como sempre se fez, dignificando assim a profissão de Editor e separando o trigo do joio? É que é urgente que se perceba de vez que vaidade é vaidade e escritor é escritor.
De um lado temos quem publica por vaidade de ter um livro editado, e quem publica apenas porque lhe pagam, sem uma ponderação séria dos conteúdos, e sem respeito por quem consome, e do outro lado, temos quem tem vocação e talento, e não é editado porque não tem dinheiro nem nome.
Contra mim falo. Possivelmente perdia em definitivo esta mania de escrever livros atrás de livros, que ficam tristinhos, com a lágrima ao canto do olho, a atravancarem-me a casa, mas como leitor ficava a ganhar, porque o mundo, e o meu país em particular, voltavam a ter escritores, dos bons, dos que são seleccionados pelo conteúdo e pelas mensagens, pelas Ideias e pela poesia da prosa, e nunca por terem dinheiro ou terem apenas nome, o nome que o dinheiro dá, como se escrever fosse um titulo de barão, conde ou duque de qualquer coisa, desses que se compravam aos reis falidos ou gananciosos no antigamente; ou será que os negócios e os lucros são os actuais reis do mundo? Por favor, condenem-me a mim, e deixem que o mundo e este país voltem de novo a ter escritores, porque bem necessitados de ideias novas estamos…
José Solá