O poeta e escritor venezuelano Fernando Báez, autor da obra “História Universal da Destruição dos Livros”, oferece uma visão aterradora da devastação sistemática de livros. O estudo demorou 12 anos, começando no Mundo Antigo, passando pela Inquisição e tempos das conquistas, até à catástrofe mais recente: a destruição de um milhão de livros no Iraque, resultado da sangrenta guerra.
O medo, o ódio, a intolerância de todos os tipos e a ambição pelo poder são as causas principais para destruir não o objecto em si, o livro, mas o que ele representa: a ligação com a memória, a riqueza intelectual de toda uma civilização.
Há 50 anos a UNESCO definiu o livro, e outros bens ligados à cultura, como “produtos culturais”. Isto significa que o livro é um produto comercial e portanto está sujeito às regras do mercado.
Em Portugal mais de 100.000 livros são destruídos por ano!
Numa entrevista a um jornal diário em 2010, o administrador-delegado do grupo Leya considerou que a destruição de livros é uma “prática de todas as editoras pelo mundo fora”, justificada pelos custos de estocagem, além da falta de capacidade física dos armazéns.
Para as editoras é mais vantajoso destruir os livros do que suportar os custos de armazenagem. Quando não conseguem colocar os livros no mercado, mesmo promovendo descontos e acções especiais, o destino é o abate.
A possibilidade de as editoras oferecerem os livros a instituições, a países de língua portuguesa, etc., é anulada por questões burocráticas, económicas e logísticas.
O conceito de produção/impressão digital denominado Print on Demand, minora esses problemas, dado que as cópias dos livros são produzidas a partir de encomendas online e enviadas directamente ao cliente.
No entanto, a evolução tecnológica e a massificação dos livros electrónicos, com custos drasticamente reduzidos e a natural diminuição dos preços de venda ao público, além de outras vantagens, começou a provocar uma revolução no tradicional sistema quer de produção, quer de venda.
Talvez mais cedo do que se possa imaginar, as livrarias que sobreviverem a esta mutação do mercado, e serão poucas, transformar-se-ão em museus de livros.
O fim dos livros de papel parece não ser ficção.
José Eduardo Taveira