PARABÉNS, JOÃO DE DEUS !

João de Deus nasceu em S. Bartolomeu de Messines a 8 de Março de 1830 e viveu até 11 de Janeiro de 1896.

Até aos dezanove anos estudou no Seminário em Coimbra donde saiu para ingressar na Universidade da mesma cidade para estudar direito.

Foi advogado e jornalista.

A sua obra poética está incluída na Colectânea “Campos de Flores”.

Além da sua vocação poética, João de Deus foi considerado um distinto pedagogo. Em 1876 publicou a “Cartilha Maternal”, que se destinava a servir de base para ensinar a leitura às crianças. Durante mais de cinquenta anos foi usada nas escolas portuguesas. Em 1888, as Cortes adoptaram esta obra como método oficial de leitura. Foi nomeado Comissário Geral do Ensino de Leitura.

Um grupo de amigos de João de Deus lançou a “Associação das Escolas Móveis pelo Método de João de Deus”. Tempos depois estas escolas evoluíram para Jardins Escolas e Escolas fixas.

João de Deus foi alvo de várias homenagens. O Rei D. Carlos impôs-lhe a grã- cruz da Ordem de Santiago da Espada. A Academia Real das Ciências proclamou-o Sócio de Honra. No centenário do seu nascimento, foi erigida uma estátua no Jardim da Estrela, em Lisboa. Em S. Bartolomeu de Messines e em Lisboa existem, respectivamente uma Casa Museu e um Museu, ambos com o seu nome.

Mas, talvez, a homenagem mais sentida por João de Deus, foi a que se organizou por iniciativa dos estudantes de Coimbra. O poeta agradeceu essa manifestação de apreço, declamando de improviso:

Estas honras e este culto
Bem se podiam prestar
A homens de grande vulto.
Mas a mim, poeta inculto,
Espontâneo, popular…
É deveras singular!

O Jornal Diário de Noticias, de 8 de Março de 1895, publicou o seguinte texto, após esta manifestação nacional:

– “João de Deus é uma das personificações mais belas do nosso carácter peninsular; vivo e indolente, devaneador e apaixonado, crente e sentimental. É uma flor do meio-dia, cheia de seiva e colorido, dos poetas e nunca ninguém sentiu entre nós mais ardente a sua imortalidade do que Bocage. Com que entusiasmo ele exclamava ao ver os seus versos elogiados na boca de Filinto: – Zoilos tremei; posteridade, és minha! Sob este ponto de vista, João de Deus é a antítese completa de Bocage. Este tinha a inspiração orgulhosa, cheia de fogo, rebentando quase num caudal de ironia e de sarcasmo. João de Deus tem a inspiração serena, espontânea, quase inconsciente. João de Deus é como a flor do campo, que rebenta formosa sem cultivo, velada apenas pela graça de Deus, o jardineiro supremo. As suas poesias são verdadeiras flores do campo, mas das mimosas, das encantadoras na sua singeleza, das que, guardadas num álbum, conservam perfeitamente a delicadeza da forma, o colorido transparente da corola, o aveludado do cálice, a disposição encantadora das pétalas.”

Pelas palavras elogiosas acima descritas, sem dúvida que João de Deus mereceu com todo o mérito ser considerado o “poeta do amor”.

João de Deus, impulsionado por amigos, teve uma breve passagem pela política. Apresentou-se às eleições gerais de 22 de Março de 1868, como candidato independente pelo círculo de Silves. Saiu vitorioso e iniciou a sua actividade parlamentar.

O seu desapreço pelo Parlamento ficou registado pelas seguintes declarações publicadas no jornal “Correio da Noite”:

-“ Que diacho querem vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir música dos outros pássaros. Dormirei com certeza!”.

A finalizar esta singela homenagem a João de Deus, o poema “Primeiro Amor”, incluído no seu livro “Campo das Flores”

Primeiro Amor

Ó Mãe… de minha mãe!
Explica-me o segredo
Que eu mesmo a Deus sem medo
Não ia confessar:
Aquele seu olhar
Persegue-me, e receio,
Pressinto no meu seio
Ergue-se-me outro altar!

Eu em o vendo aspiro
Um ar mais puro, e tremo…
Não sei que abismo temo
Ou que inefável bem…
Oh! e como eu suspiro
Em êxtase o seu nome!…
Que enigma me consome,
Ó Mãe de minha mãe!

 

José Eduardo Taveira

 

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