“SERMÃO DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS” – Padre António Vieira

“Quando considero na vida que se usa, acho que não vivemos como mortais, nem vivemos como imortais. Não vivemos como mortais, porque tratamos das coisas desta vida como se esta vida fora eterna. Não vivemos como imortais, porque nos esquecemos tanto da vida eterna, como se não houvera tal vida.

Ora, senhores, já que somos cristãos, já que sabemos que havemos de morrer e que somos imortais, saibamos usar da morte e da imortalidade. Tratemos desta vida como mortais, e da outra como imortais. Pode haver loucura mais rematada, pode haver cegueira mais cega que empregar-me todo na vida que há de acabar, e não tratar da vida que há de durar para sempre? Cansar-me, afligir-me, matar-me pelo que forçosamente hei-de deixar, e do que hei-de lograr ou perder para sempre, não fazer nenhum caso! Tantas diligências para esta vida, nenhuma diligência para a outra vida? Tanto medo, tanto receio da morte temporal, e da eterna nenhum temor? Mortos, mortos, desenganai estes vivos. Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos foram os vossos quando entrastes e saístes pelas portas da morte? A morte tem duas portas: Qui exaltas me de portis mortis. Uma porta de vidro, por onde se sai da vida, outra porta de diamante, por onde se entra à eternidade. Entre estas duas portas se acha subitamente um homem no instante da morte, sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde não sabe, e para sempre. Oh! que transe tão apertado! Oh! que passo tão estreito! Oh! que momento tão terrível!

Aristóteles disse que entre todas as coisas terríveis, a mais terrível é a morte. Disse bem mas não entendeu o que disse. Não é terrível a morte pela vida que acaba, senão pela eternidade que começa. Não é terrível a porta por onde se sai; a terrível é a porta por onde se entra. Se olhais para cima, uma escada que chega até o céu; se olhais para baixo, um precipício que vai parar no inferno, e isto incerto. (…)

(…) Cristãos e senhores meus, por misericórdia de Deus ainda estamos em tempo. É certo que todos caminhamos para aquele passo, é infalível que todos havemos de chegar, e todos nos havemos de ver naquele terrível momento, e pode ser que muito cedo. Julgue cada um de nós, se será melhor arrepender-se agora, ou deixar o arrependimento para quando não tenha lugar, nem seja arrependimento. Deus nos avisa, Deus nos dá estas vozes; não deixemos passar esta inspiração, que não sabemos se será a última. Se então havemos de desejar em vão começar outra vida, comecemo-la agora: Dixi: nunc caepi. (…)

(…)  Comecemos de hoje em diante a viver como quereremos ter vivido na hora da morte. Vive assim como quiseras ter vivido quando morras. Oh! que consolação tão grande será então a nossa, se o fizermos assim! (…)

(…) De vinte e quatro horas que tem o dia, por que se não dará uma hora à triste alma?

(Excertos do “Sermão de Quarta-Feira de Cinzas” do Padre António Vieira)

José Eduardo Taveira

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5 respostas a “SERMÃO DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS” – Padre António Vieira

  1. Quando o homem souber quem é no seu todo, e que da mais importância a um corpo finito que ao ser primeiro, o espirito, aí começará a encarar as coisas de forma diferente, preocupando-se em alimentar o corpo físico e o espirito.
    Ao mesmo tempo precisa de saber que os alimentos do espirito são energias puras, de amor e verdade, que nos ligam a mente cósmica ou se quisermos ao Deus Uno e Único dos Universos.
    Vivemos em mundos de energias, que precisamos de conhecer e saber usar.

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  2. Cuidado, minha gente. Neste sermão, (feito por um homem que muito respeito), o cientifico, simplesmente não tem lugar. Se Deus é um ser acima de tudo o resto, e infinitamente bom, como justificam a pedofilia praticada por alguns padres, a inquisição, de má memória? Será que o tal Deus bom é, simplesmente cego? Descrente, eu? Muito pelo contrário. Acredito piamente nos mistérios do Universo, e não me pronuncio quanto à imortalidade do Homem. Só sei que tudo o que conheço é feito e ponderado pelo génio de alguns homens, muito poucos, que, pela via do pensamento cientifico se libertaram da imoralidade de um Deus bom!

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  3. O Padre António Vieira, perseguia e defendia a verdade, que se enquadra mais no cientifico que no místico, razão porque foi perseguido pela Igreja de Roma.
    O entendimento e aproximação a um Ser, que a nossa mente não alcança, faz-se através da cultura de energias puras de amor e verdade, de forma coerente, ordenada, sem falsos dogmas e falsos profetas.

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  4. Nos dogmas não existe nada que tenha a ver com ciencia. Estamos no século vinte e um. O que são energias puras de amor e de verdade? E que mistura é essa com coerencia? Eu só conheço o que o pensamento do homem produzio, mesmo Deus só existe no pensamento do homem.

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  5. O pensamento do homem corresponde a uma energia, que nos aproxima ou afasta, dos caminhos do cosmos. Plasmam nas nossas vidas de acordo com o seu teor o positivo e o negativo.
    Movimenta entidades encarnadas ou desencarnadas de planos vibratório afins.
    Estes conhecimentos adquirem-se através da investigação, ordenada, sem misticismos, falsos credos e falsos profetas.
    Foi isso que pretendi dizer.

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