QUANDO TIBÉRIO (O “BRAÇO DIREITO” DO BANQUEIRO VITO CICERO, HOMEM QUE SE REALIZOU NOS NEGÓCIOS, APESAR DE FILHO DE UM MODESTO SALCHICHEIRO DA SICILIA), SE COMPARA COM OS POLITICOS DO PAÌS ONDE OPERA, NÃO ENCONTRA DIFERÊNÇAS. É QUE OS POVOS (TODOS OS POVOS), SERVEM APENAS COMO ESCADA PARA OS RICOS SUBIREM NA VIDA. NÃO PODEM EXISTIR ESCRUPULOS NO MUNDO DOS NEGÓCIOS, NEM NACIONALIDADES, E A ÉTICA SÓ SERVE QUANDO CONVÊM.
NO MUNDO REAL NÓS, PORTUGUESES, COMO CONSEQUÊNCIA DA NOSSA FALTA DE INTELIGÊNCIA COLECTIVA, FOMOS ARRASTADOS PARA UM MUNDO ONDE NEM OS MAIS POBRES DE ESPIRITO CONSEGUEM VIVER. ESTAMOS ONDE NOS QUEREM E SOMOS O QUE SOMOS APENAS POR CULPA PRÓPRIA.
SAÍDAS? NA MINHA MODESTA IGNORÂNCIA ATREVO-ME, A CONTRIBUIR COM O QUE PENSO NO FINAL DESTE TEXTO!
Como se pode tirar a alguém aquilo que essa pessoa não tem? Tibério, pelo exercício da sua profissão, conhecia todos os métodos não ortodoxos, (como é usual dizer) para conseguir impossíveis, que variavam entre o atropelo membros da família aos valentes apertões das gargantas, a envenenar o pobre do cão, a meter-lhes na cama a cabeça dum cavalo ensanguentada enquanto dormiam, a enviar-lhes um peixe embrulhado num papel de jornal, mas seria possível a eficácia de todos estes processos (amplamente comprovada pelos muitos anos de práticas, mesmo séculos) tratando-se de um governo legitimado pelo voto secreto do povo? E um governo de um país distante, apesar de insignificante, um país com história e uma cultura? Tinha as suas dúvidas. Tibério, se por um lado lhe agradava o poder, a magnitude do poder sem limites, parco de regras, o poder divino transmitido pela força e pela impunidade do dinheiro que tudo permite numa ilógica de força que aparentemente não se vê, é como um fantasma invisível que a todos corrompe, por outro, habituado à obediência cega do cumprimento cabal das ordens, desenvolvera uma consciência pessoal que nunca se imiscuía nos assuntos do trabalho, mas que lhe ditava as regras para uma conduta social razoavelmente aceitável na sociabilidade do mundo dos homens. Tibério, se tivesse constituído família, seria capaz de chegar a casa no final de um dia exaustivo de trabalho, depois de ter apertado o gasganete a um ou dois dos rivais do seu patrão, e num esfregar de olhos passar à figura paternal de um dedicado chefe de família, enérgico na prática das suas obrigações como pai de família, orgulhoso dos êxitos alcançados pela sua prole, marido dedicado e amantíssimo, parceiro activo nos assuntos do lar, interveniente nos serões de família, preocupado com os resultados escolares obtidos pelos filhos.
Contudo (e esforçando-se por entender como se processava a governação de determinados povos), não se sentia muito diferente dos governantes do pequeno país onde fora colocado. Também eles eram capazes de chegar a casa após um dia exaustivo de trabalho, dentro de um carro topo de gama, conduzidos por um motorista fardado a rigor, precavido com o conforto da coronha da arma aconchegada junto ao sovaco, confiante da solidez dos vidros e da chaparia anti–bala, um dia em que tinham (por obrigação da arte do seu ofício), minguado os parcos salários da população triste e cansada de dar, dar, dar até ao cerne da alma, dar o que se tem agora e também o que se vier a ter num futuro mais ou menos próximo, dar a vida se preciso fosse, o sangue das veias e o comer dos filhos, dar a sanidade mental que aos poucos vai vencendo os novos escravos, para compensar mais um erro de cálculo feito pela governação.
Qual era então a diferença entre ele e essa rapaziada vestida com fatos importados dos melhores alfaiates do mundo, que na prática apertavam os gasganetes dos seus compatriotas mais desprotegidos (tal como ele, por elementares questões de trabalho, negócios, dever de ofício, nunca por prazeres mórbidos inconfessados o fazia aos inimigos do seu patrão), e logo, paredes dentro do lar, templo sagrado da família, se transformavam ou se reabilitavam aos seus próprios olhos, ou simplesmente se abstraiam dos problemas do trabalho, deliciavam-se com as massagens que as esposas com todos os desvelos que o carinho de gueixas amantíssimas lhes impunha, faziam nos seus ombros contraídos pela dureza do dia.
Não havia portanto, aos seus olhos, qualquer diferença entre o clã a que pertencia e que se dispunha a defender com o sacrifício da vida, e os clãs que se movimentavam nas esferas do poder dos governos das nações. Emprestadores e devedores eram iguais tanto nos comportamentos como nos escrúpulos.
SAIDAS POSSIVEIS?
Na minha modesta opinião é imperioso que o povo assuma, ou chame a si, o direito de decidir e controlar o caminho para o futuro que quer, e isso começa por sabermos que futuro queremos e o que queremos fazer do País que herdamos dos nossos pais. Depois? Bem, alterar a Constituição, de forma a evitar que tais desmandos se voltem a repetir, impor como meta e principio que Portugal visa, acima de tudo, a auto-suficiência como forma última de garantir a Independência, prender os banqueiros que, por desonestidade e conluio com compadrios, nos conduziram à degradante posição de mendigos e de pedintes, prender políticos responsáveis, sejam eles deputados, ministros, conselheiros de estado, presidentes de Câmaras Municipais, ou outros, impor que na Assembleia Nacional os deputados criem leis onde a transparência seja, Dora à vante, o nosso timbre como Nação Soberana, que todos saibam o que se deve, a quem se deve e porque se deve, recusar a pagar a divida externa com estes juros e com semelhantes prazos, assumir que temos de passar tremendas dificuldades se nos queremos livres e gente de bem, se necessário arrancar as flores dos jardins para plantar alimentos. Impor aos patrões que se recusam a evoluir, a adquirir hábitos de competitividade, a pagar impostos, a respeitar a mão-de-obra, a perceber que o mundo já não se constrói com escravos e analfabetos, que cedam o lugar aos novos.
Como fazer isto com o Povo que temos? Com a juventude esclarecida que está a ser expulsa do País, com esses, penso que sim, porque estão convenientemente preparados. Mas com os que ficam? Não sei. Vamos continuar com os exploradores que nos chegam de fora, com estes políticos, com estes patrões, com as nossas fominhas, os nossos Cristos crucificados de que tantos se servem simplesmente para viver. Vamos ficar com a nossa tristeza, sujeitos ao gozo do mundo. Vamos vender o que nos resta exactamente aos nossos algozes, e quando já nada tivermos, vamos, (como eu digo na Ganância), vender-nos em talhões, vender os edifícios, os monumentos, até a roupa que trazemos no corpo.
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