OS PEQUENOS ESCRITORES, NESTAS ÉPOCAS, PUBLICITAM OS SEUS LIVROS. COMO UM MICRO ESCRITOR, AQUI ESTOU EU A FAZER O MESMO. ESCOLHI ABRINDO O LIVRO AO ACASO. NÃO CALHOU QUANDO OS CHINESES COMPRAM A NOSSA ASSEMBLEIA PARA NELA ABRIREM UM SUPER MERCADO, NEM QUANDO A RESIDENCIA OFICIAL DO SENHOR PRIMEIRO MINISTRO É ADQUIRIDA POR UMA EMPREZA CINEMATOGRÁFICA QUE SE DEDICA AOS FILMES PARA OS MUITO MAIORES DE DEZOITO ANOS…
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compreensível, o contrário não. Os governantes discursam pedindo sacrifícios ao povo, quando o correcto era o povo perguntar aos governantes: “Então, se depois de pedirmos tanto dinheiro emprestado, ainda assim empobrecemos desta tão dolorosa maneira, temos o direito de lhes perguntar onde está o dinheiro que devemos, como foi aplicado, e como nos violentam de forma tão selvagem em nome de uma dívida que nenhum de nós fez, e de cuja real dimensão e gravidade nada sabíamos? E a isso os governantes do momento responderiam:“não fomos nós, foram os outros, os do governo anterior!”, e os governantes anteriores, provenientes do partido político A ou B, C ou D, diriam, em defesa da causa própria: “Nós herdámos a situação que os senhores nos deixaram quando estiveram no poder na legislatura anterior à nossa!” E o povo, no seu legítimo direito de ser esclarecido, no sagrado direito de indignação que cabe às pessoas colectivas de bem (ou mesmo às pessoas singulares), em defesa da honra de povo a que o mundo, no seu eterno escárnio e de indiferenças, chama de caloteiro, de improdutivo e de irresponsável, iletrado e sem inteligência colectiva, insistiria na questão simples de saber o motivo porque deixaram passar tantos anos sem que o informassem das monstruosas dívidas a que tem de acudir se quer continuar a ter uma Pátria, uma casa, um lar; e quanto aos supremos juízes da Pátria, esses que nunca comentam o que quer que seja de importante ou não, ou porque não é o lugar devido, ou porque esperam que outro poder fale primeiro ,afinal para que servem?
Ainda outra questão martelava nos cérebros cansados dos pacatos e simplórios cidadãos daquele país, e que era tirar a limpo se determinadas agências estavam ou não a ser correctas nas suas avaliações; muitos diziam que não, que se tratava de perseguição, de influências movidas por países rivais, e aqui surgia a premente necessidade de tirar a limpo, de forma cabal e definitiva, se a dívida existia mesmo, se não existia, se se tratava de uma perseguição movida por alguém que não tinha ido com a cara do negociador enviado (essas coisas acontecem), se o valor era assim tão astronómico, e, se confirmasse o montante, ainda faltava averiguar as razões porque o emprestador tinha facultado a uma modesta fabriqueta de tijolos uma quantia digna da grandeza de uma poderosa e moderníssima central atómica. As dúvidas eram muitas e os esclarecimentos nenhuns. A poderosa máquina de propaganda que o povo simples permitira que os políticos ardilosamente montassem ultrapassava a fábrica de mentiras edificada pelo Nacional-socialismo alemão na segunda grande guerra mundial, e com larguíssimos proveitos; cada ministro, secretário de estado, ou subsecretário, cada agente político funcionava como um brilhante e talentoso propagandista, e ao povo cabia apenas o papel de pagar, pagar, pagar, ou revoltar-se e pugnar por todos os meios possíveis pelos seus direitos à vida e ao seu bom nome. (…)