“HISTÓRIAS DE PESSOAS QUE DECIDI DIVULGAR”

                  HISTÓRIA Nº 25 ( FINAL )

                 AMÉLIA DA CONCEIÇÃO

             Olá, Amigo Desconhecido

       Estou um pouco adoentada, ainda não percebi bem o que é. Quando o meu marido, que era médico, como já lhe tinha dito, me via com problemas de saúde dizia-me: “oh! rapariga, tens de ir ao médico imediatamente. Nunca se deve adiar o tratamento de uma doença por mais insignificante que seja.” Ele era muito engraçado. Quando lhe pedia uma sugestão, para tomar um medicamento ou coisa assim, dizia-me que “santos de casa não fazem milagres”. Era tão bom homem!

          Apesar de vivermos numa cidade, chamavam-lhe o João Semana, o médico criado por Júlio Dinis, no romance “As Pupilas do Senhor Reitor”. O Alberto não gostava deste epíteto.

          O seu consultório estava sempre cheio. Quando sentia que um paciente tinha dificuldades em pagar a consulta, além de oferecer alguns remédios, dizia-lhe que só pagava no fim do tratamento. E nunca aceitou um tostão. Que saudades daquele sorriso maroto quando lhe chamava “meu doutorzinho coração de ouro”!

                Amélia

                                                ****

                Amélia

          Espero que se encontre melhor. Esta semana tem sido complicada, mas tenho a certeza que os medicamentos a vão curar. Não a quero incomodar, por isso não vou obrigá-la a ler muito mais. Desejo-lhe as melhoras, rapidamente.

                Até amanhã, Amélia.

                                                 ****

                   Meu querido Alberto,

          Sinto-me cada vez mais doente e o médico que veio cá hoje a casa disse-me que terei de ser internada, para fazer análises e exames para decidirem se tenho de ser operada ou não. Não consigo dormir e o cansaço é cada vez maior. Alberto, meu amor, durante estes anos senti a tua companhia, sem estares fisicamente presente. As cartas que eu te escrevia e que eu me respondia, proporcionaram-me a felicidade de acreditar que tu ainda existias, longe de mim, mas existias. Continuaste a ser o meu companheiro inseparável. O exercício de sedução criado ficticiamente no início da nossa relação epistolar, correspondia ao teu charme e distinção. Foi assim que me trataste quando nos começámos a namorar. Sempre foste um cavalheiro e para ti fui sempre a tua princesa.

          Não sei se esta carta será a última. Se tudo correr bem, peço lá no hospital que me arranjem papel e escrevo-te a contar como estão a correr as coisas. Aguarda por noticias minhas. Agora não fujas, meu querido Amigo Desconhecido! Meu querido Alberto.

          Alberto, meu amor! Meu querido marido!

          Beijos da tua eterna apaixonada

                      Amélia.

               FIM

José Eduardo Taveira

Esta entrada foi publicada em Opiniões, testemunhos. ligação permanente.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.