Eu nasci numa terra chamada Inhambane. (Podem procurar: existe mesmo).
Naquele tempo, em Inhambane, não havia quase nada para um miúdo se divertir. Poucas lojas, mas nem pensar em centros comerciais. Nada de Oeiras Parques ou Cascais Shoppings. Havia um cinema, sim, mas passava poucos filmes. Nada de televisão nem de parques com escorregas e baloiços. Não havia piscina e não podíamos brincar na praia, desde que apareceram crocodilos. Só existiam dois carros na terra inteira, e nenhum deles era dos meus pais.
Podem imaginar a alegria dos meninos de Inhambane quando se soube que íamos receber a visita de um circo. Um circo enorme, cheio de luzes: palhaços, trapezistas, bailarinas. Para quem não tinha quase nada para se divertir o ano inteiro, era muita coisa, muita, muita, muita coisa mesmo. Alguns miúdos falavam em leões. Falavam de um mágico que fazia desaparecer bolas, lenços e até pessoas. (Será que conseguia fazer desaparecer a nossa professora, a Dona Guida, e aparecer uma pombinha no lugar dela?) Mas mais importante do que tudo isto é que vinha, no circo, o extraordinário, o maravilhoso, o incomparável – Hooomem-Baaalaaa!
Desde que vimos os cartazes que todas as nossas conversas recaíam sobre o Homem- -Bala… O circo estava entretanto a ser montado. Era uma tenda enorme, com riscas de muitas cores. Uns homens simpáticos, altos e fortes, em tronco nu, com luvas para agarrar nuns maços de madeira, iam fazendo aquela tenda começar a crescer, como se fosse um novo planeta.
[talvez continue; mas talvez não]