Pedro (amigo do jovem irmão a que um automóvel roubara a irmã), que admira e ama os indivíduos apresentados, ansioso por deixá-los mas incapaz de os deixar, é o narrador por cuja mão vai sendo construído, diante dos olhos do leitor, uma história no presente, mas em que o passado irrompe com um poder constante e brutal. Pedro testemunha os principais momentos desta trama, como preso a ela, fascinado e esgotado: escreve-a como se fosse um romance, à semelhança de um outro romance, escrito pelo seu amigo; é, pois, um romance que contém e é contido pelo romance que o inspira. Através do seu olhar atento e sensível, Pedro tenta tudo recolher e compreender: estas personagens principais e uma séria de personagens secundárias, como um peixinho num tupperware, um anão cinéfilo, um detective libidinoso, um barbeiro que poderá ter sido – ou não – o assassino da própria mãe, ou um líder solitário em busca de quem o oiça e siga, numa pluralidade de personagens e situações que, no entanto, nunca se desagregam de um fio narrativo central: a viagem de um pai para reencontrar o seu filho.