A crueldade entre homens, indivíduos, grupos, etnias, religiões, raças é aterradora.
O ser humano contém em si um ruído de monstros que liberta em todas as ocasiões favoráveis.
O ódio desencadeia-se por um pequeno nada, por um esquecimento, pela sorte de outrem, por um favor que se julga perdido. O ódio abstracto por uma ideia ou uma religião transforma-se em ódio concreto por um indivíduo ou um grupo; o ódio demente desencadeia-se por um erro de percepção ou de interpretação.
O egoísmo, o desprezo, a indiferença, a desatenção agravam por todo o lado e sem tréguas a crueldade do mundo humano. E no subsolo das sociedades civilizadas torturam-se animais para o matadouro ou a experimentação.
Por saturação, o excesso de crueldade alimenta a indiferença e a desatenção, e de resto ninguém poderia suportar a vida se não conservasse em si um calo de indiferença.
Nota: Texto incluído no livro “Os meus Demónios”, de Edgar Morin, antropólogo, sociólogo e filósofo francês. Nasceu em Paris no dia 8 de Julho de 1921.
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