Reflexões
Falando de Montanhas e de insignificâncias, e de bandalhos…
Todos os povos do mundo têm sonhos. É legitimo sonhar e esperar que o sonho um dia se concretize. Mas o mundo é coisa grande e estranha, tem manhas, é trapaceiro quando menos esperamos. O mundo joga-nos com os seus baldes de água gelada em cima, e ri-se. Então os povos que sonham rodeiam os seus líderes, os seus Estadistas, e assim recobram do banho gelado, enfrentam as tragédias do mundo e, aos poucos, recuperam os seus sonhos.
Todos os povos? Bom, na verdade, nem todos. Nós, (não sei porque fatalismo, ou má sina), ficamo-nos sempre pelos nossos bandalhos. Não sei porque “carga de água” é assim. Espermatozóides sazonais que trazem defeito de fabrico, deficiência das linhas de produção, crise financeira na holding de Deus, (sim, porque não temos forçosamente espermatozóides comuns, como os animais e os outros que, ainda que filhos de Deus, não foram pelo Pai perfilhados; nós fomos, e por isso demos novos mundos ao mundo, globalizamos a treta do planeta, escravizamos, (perdão, leiam educámos), e, munidos da pachorra e do tédio de só e apenas fazer o bem, cumprimos os desígnios do Altíssimo, em conformidade com os espermatozóides especialmente enriquecidos na sopa da vida, que, com extremoso carinho e desvelo, Ele nos dotou. Só que a crise financeira, meus irmãos, tudo vence, e até à solidez do Céu chega. À quinhentos anos atrás seria outra “loiça!” Hoje, Deus já não nos banha no mar da inteligência, borrifa-nos, como faz com os gentios das terras distantes. Ficamos órfãos de Pai. O que fazer, agora, nesta qualidade de gente comum, nós, os dilectos eleitos?
É caso para nos sentirmos mortais “totós” num mundo assim, com tantas modernices e trapaças. Vejam vocês a esparrela (ou casca de banana), em que nos estampámos: a Europa, na sua bondade extrema, disse-nos o que não devíamos produzir, porque eles conseguiam melhores custos de produção, e nós, com a nossa qualidade de excelência enquanto alunos, perdemos as pescas, a agricultura, as industrias, as manufacturas, a ciência, a cultura, enfim, tudo o que faz um País, incluindo a língua! É certo que fomos pagos, e com o pecúlio assim tão “facilmente” adquirido, construímos estradas, produzimos cimento, com ele fizemos betão. A indústria da Construção Civil agigantou-se a níveis nunca antes alcançados. Pela mão ternurenta de um líder que julgámos carismático e estadista “à séria,” o nosso tão querido Cavaco, embarcamos de novo nas caravelas, e, de velas enfunadas, navegámos a caminho do disparate, nas águas calmas de um oceano sem fim visível! Hoje, (com a infinita paciência que caracteriza todos os grandes ladrões de cartola), a ufana Europa recupera o seu investimento, e os seus avultados juros; bom negócio! Excelente qualidade de raciocínio! O mundo, de facto e de júri, é dos espertos. O mundo e o Céu, porque, para os estúpidos, fica apenas a niquinha mais remota do inferno profundo, onde nem o diabo já quer morar! Sem soberania, escravos de um dinheiro que não nos permite viver na caseira decência de sempre, navegamos sem perder de vista a costa, e nem sequer percebemos qual a costa que nos serve de referência!
Permito-me oferecer-lhes um pequeno texto, escrito pelo Prémio Nobel da economia, Paul Krugman; na página cem do seu livro, “Acabem com esta Crise,” ele escreve:
(…) Normalmente, pensar-se-ia que a melhor opção de um primeiro-ministro seria tentar fazer aquilo que provavelmente o levaria a ser reeleito. Por mais negro que o panorama seja, é esta a estratégia dominante. Mas, na era da globalização e da europeização à moda da EU, creio que os lideres de pequenos países se encontram na verdade numa situação ligeiramente diferente. Se algum deles terminar o mandato usufruindo de grande estima por parte do grupo de Davos, há uma infinita série de postos na Comissão Europeia, no FMI ou em organismos afins para os quais poderá ser elegível mesmo que seja completamente desprezado pelos seus próprios conterrâneos. Aliás, ser completamente desprezado seria de certa forma uma mais-valia. A derradeira demonstração de solidariedade à “comunidade internacional” seria fazer aquilo que a comunidade internacional quer, mesmo perante a resistência em massa dos seus próprios círculos eleitorais nacionais. (…)
Que cada um de nós busque os rostos dos nossos traidores, e os imprima a fogo na mente, até que a oportunidade da vingança nos bata à porta!
Eu quero falar-lhes de saúde pública e de terapias. Dois homens, (um com cento e quarenta quilos de peso, o outro com cem), vão a uma consulta médica, e o médico faz o mesmo diagnóstico para ambos: a necessidade premente, imediata, de cada um emagrecer com urgência, cinquenta quilos; o que pesa mais fica combalido do tratamento, mas sobrevive. Ficou com noventa quilos, o que ainda é peso adequado à sua altura. O outro, bom, sucumbe, pela simples razão de que os seus modestos cinquenta quilos são-lhe insuficientes. No seu caso, o médico errou o diagnóstico! É o caso; nós, portugueses, não engordámos o necessário para tão abrupto emagrecimento. E porquê? Bom, não sendo muito complexas, as razões da nossa magreza prendem-se, (quanto a mim), a duas e pertinentes razões. Tratemos em primeiro lugar da segunda. No seu discurso no dia primeiro de Maio, o primeiro-ministro falando para alguns trabalhadores do PSD, disse, (não textualmente): “Se sairmos do euro como alguns pretendem, temos de arranjar moeda própria, desvalorizá-la trinta por centro, ou mais, e temos de enfrentar a bancarrota.” É verdade, senhor primeiro-ministro! Mas pergunto: “Então, e se não sairmos?” Se não sairmos, – penso eu – continuamos sem soberania, acorrentados à hegemonia prepotente de uma Alemanha e seu delírio de expansionismo e de escravização dos países mais débeis, ou com mais germanófilos nos cargos importantes nos respectivos governos nacionais! E, ainda que esqueçamos a nossa portugalidade, a nossa nacionalidade, estamos a ignorar as nossas conveniências; é que esta Europa fede, de estupidez, de incompetência, e de desrespeito pelos povos que a integram! Além do mais, em democracia, a decisão de ficar ou de sair tem de ser tomada pelo povo e, daí, a urgência de um referendo, que legitime a vontade soberana do Povo.
Falando agora da segunda razão, e essa tem muito a ver com o principio, (bem português): “quem vê caras não vê corações.” As simpatias contam. Aquele penteia-se melhor, veste bem; aqueloutro fala bem, mas não me alegra por causa daquele dente cariado que mostra lá atrás! Aquele? Nem doutor é, o coitado! Há com cada um, onde já se viu, um reles operário a falar do que não sabe! E assim, elegemos o Aníbal Cavaco Silva como politico de estimação, ou mascote perpétua. Eis o nosso drama: eleger avaliando os políticos pelas aparências, e pelos discursos fáceis, as palavras ocas, a verborreia!
Um Povo tem hábitos e tradições que são o seu ADN, a sua identidade. A Republica sempre se festejou livremente em todas as cidades portuguesas, mesmo durante a primeira parte da ditadura. Cavaco Silva, ao limitar as comemorações às elites, na prática, adquiriu a Republica como se fora um bem seu, pessoal, que graciosamente faculta quando quer aos seus amigos e convidados; no exterior representa o País segundo as suas convicções pessoais e não segundo os protocolos a que o cargo de Presidente o obriga, (é o recente caso de excluir do seu discurso o Nobel da Literatura Portuguesa, quando em publico falou na Colômbia); impede o Povo de, (pela via eleitoral), fazer funcionar a Democracia, que tanto suor e lágrimas, sangue, desespero, nos custou a conquistar. Hoje, ao tornar-se partidário, com um simples abanar de orelhas, espanta e arrepia os últimos redutos da nossa decência e consciência colectiva! Afinal, vendo bem a nossa desdita, se a crise não tem subido aos céus e Deus investisse continuamente no enriquecimento da nossa “transmissão” genética, não andávamos a produzir tantas bestas! (FIM DA PRIMEIRA PARTE)
José Solá
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