Alfred Brendel, nasceu em 1931, na Checoslováquia, é austríaco e vive em Londres.
Pianista, poeta, pintor e escritor, é considerado um dos melhores intérpretes da música erudita germânica. Gosta de rir e tem perante a vida uma atitude positiva.
É famoso pelas suas interpretações magistrais das obras de Schumann, Beethoven, Mozart, Liszt, Schubert e Hayden.
Publicou dois livros sobre música:”Musical Thoughts and Afterthoughts” e “Music Sounded Out”. Recentemente, todos os seus ensaios foram reunidos no livro “Alfred Brendel on Music”.
Alfred Brendel escreve em alemão. A sua poesia subversiva e “absurda” está publicada nos livros: “One Finger too Many” e “Cursing Bagels”.
Entre os inúmeros prémios que ganhou, destaque para: “Légion d´Honneur”, em 2004 e a “Ordem de Mérito” da República Federal da Alemanha, em 2007. Recebeu, também, diplomas honorários das Universidades de Yale, Exeter, Dublin e Oxford.
O seu concerto de despedida, no dia 18 de Dezembro de 2008, teve lugar em Viena, actuando na Orquestra Filarmônica de Viena, uma das melhores orquestras do mundo.
Extractos de uma entrevista ao “Público” de 30-04-05:
Pergunta- Tem falado e escrito sobre o “carácter” particular de cada obra, de cada “obra-prima”. A sua tarefa como pianista, como intérprete, é então tentar discernir cada “carácter” particular?
Resposta – Esse é um dos aspectos mais fascinantes. Sinto-me muito próximo de um actor que assume personalidades, e quando se toca peças tem de se fazer o mesmo, de acordo com que a peça requer. E quando digo que a peça tem um “carácter” é algo de semelhante a olhar para as pessoas, para os amigos. Sabemos que um amigo tem certas qualidades, certas possibilidades, certas potencialidades, e algures dentro desses campos está o seu “carácter”. É o mesmo com uma obra de música. Temos de encontrar o campo em que o “carácter” existe e não ultrapassar esse campo, porque então se fazemos isso desentendemos, descaracterizamos a obra.
P – Portanto, a curiosidade intelectual é parte do seu “carácter”.
R – Desculpe mas está a enfatizar o “intelectual”. O intelectual em mim não é primordial. O intelecto sem emoção não tem grande justificação em mim. Não sou um intelectual; uso o meu intelecto, mas antes de mais sou um artista, uma pessoa intuitiva que também pensa.
P – O “nonsense” é muito importante nos seus poemas.
R – É. Ambos são, o “sense” e o “nonsense”.
P – Tocar, escrever – é uma espécie de “vida dupla”?
R – É uma “vida dupla”, não é a mesma coisa; há similaridades, mas são coisas diferentes. Até começar a escrever poemas, havia uma forte conexão, porque escrevia sobre música e matérias da minha profissão. Agora são os poemas que me escrevem.
Um dos seus poemas humorísticos:
No Além
podemos compensar
o que nos faltou na vida.
Beethoven por exemplo,
pode-se realizar como padeiro
jogando a massa no forno com a fúria habitual.
A semelhança entre suas sonatas e os “pretzels”
foi notada primeiro por Tovey,
mas foi o ouvido aguçado de Schenker
que comparou as últimas bagatelas
a bolos de semente de papoula.
A mais recente composição do falecido mestre,
seus “Bagels Xingadores”
xingam
quando você mergulha os dentes neles.