Uma nova ideia com conceitos muito antigos
O Vício do Artesão
As ideias básicas
à
realização
Camarate, 28.09.2012
Orlando Nesperal
Como nasce um artesão
Um homem, cansado, saturado com as circunstâncias que o consumiram, espreita o seu íntimo exclama: bem sei que lutei, cheguei aqui e deixei de ser um produto válido para ser consumido. Mas qualquer desassossegado, se levam e grita, mesmo que seja perante uma plateia de surdos, não estejam preocupados, lá fora o mundo é grande, mas a minha capacidade de pensamento é ilimitada. Daí que nasce outro Homem, o” homem novo” que se passou a intitular-se por, ARTESÃO, é este homem novo, que talvez tenha sido um errante durante a sua existência, nunca fazendo o que queria mas sim aquilo que os outros precisavam.
Mesmo vivendo nos limites do conformismo, sentia que o seu destino podia ter outros caminhos,.. Recordando; vou deixar de fazer o que gosto; “escrever” para ter o direito à sobrevivência. Em todo o percurso, os tempos de lazer eram afetados, pelo eterno dever; trabalhar!
Muito longe duma ideia formada ou pensamento possível que um dia poderia vir a estar sentado numa secretária, e pudesse a vir a escrever sobre este tema. Como tudo na vida não seria eu a pessoa correta para o fazer, mas o destino, cria e gera condições que nos leva a mudar de rumo, é sobre esse novo rumo que nasce o “ homem novo”, como sempre me afirmei, um desassossegado e muitas vezes inconformado, com as limitações que nos colocam e só tenho uma solução que é desbloquear as condições, para as quais nos empurram e mal olhamos para o lado, já estão metidos num colete-de-forças.
Não tendo sido um operário, sempre longe das fábricas e dos centros de produção, vivendo e convivendo com as atividades de serviços, numa relação direta com papéis, leis e vendas, esquecendo por completo o poder criativo como os objetos eram feitos e chegavam até nós. Mas tendo sempre presente, que escrever era o meu poder mais alto, claro não sou um romancista, aquele que cria imagens e forma discursos diretos, apaixonando corações ou dando vida a personagens que apenas existem no imaginário. …Talvez um narrador!?
Pela ausência de não encontrar nada escrito, sobre artesões, nasceu esta ideia de fazer este simples manual, muito pessoal, para melhor compreender mais a mim próprio do que espalhar pelo mundo. Todos nós já sabemos que nos dias de hoje, tudo ou quase tudo está à distância dum simples clique, na internet e com uma busca, muito rapidamente obtemos o que desejamos. Foi assim que me aproximei muito da arte de esculpir ou fazer entalhe em madeira e bem assim como poderia eu fazer alguns objetos pessoais ou mesmo recuperar outros que gostava de ter.
Talvez fique bem dizer, quais as causas que me levaram a procurar e afirmar a mim, que gostava de ser um Artesão. Uma das causas foi na realidade, aparecerem condições onde pudesse ter o meu Ateliê, não seria possível, este acontecimento sem a garagem da casa de Cernache do Bonjardim. Mas em boa verdade só por si uma garagem não serve para nada se não lhe colocarmos um pouco das nossas vidas. Para o homem dos serviços, não era bem olhado, quando se lembra abraçar outras áreas de conhecimento e entre os muitos materiais que existem ou as suas utilizações, a madeira era o caminho a seguir.
Com o avançar da idade, também comecei a sentir, que mais tarde ou mais cedo o mundo do trabalho e as prestações de serviço, deixam de ser interessantes tanto para as quem realiza, como para aqueles que, desejam sangue novo nas relações de trabalho, esquecendo por completo a experiência ou a eficácia da prestação, duma foram em geral, os mais experientes, são sempre uma afronta e não uma mais-valia. Outro rumo, pode ser a salvação e a construção dum “homem novo”, não deixando morrer os sonhos e colocados numa prateleira, à espera que um dia o venham buscar. Antes que isso acontecesse, nasce um artesão!
Recuando um pouco no tempo, podemos fazer uma ponte entre os tempos da infância e os nossos dias, talvez seja aí que podemos situar, para uma melhor leitura dos relacionamentos. Tendo nascido num meio rural, as primeiras imagens que tenho, foi as alfaias agrícolas, de certo modo provocaram algum entusiasmo e admiração, começando que cada uma tinha um fim determinado e uma especificação para cada trabalho que executávamos. Mas era interessante, que todas tinham uma parte em madeira, e encantava-me a forma do mesmo, quase sempre redonda, mas sempre muito lisa e suave do uso que lhe era dado.
Ao iniciar a escola primária, era interessante que havia na escola uma amostragem de pequenas miniaturas dessas mesmas alfaias, já feitas por alunos. Ainda fiz uma escada em madeira, que era utilizada na apanha da azeitona, mas não foi muito bem conseguida, é bom saber que a única ferramenta cortante à disposição era um canivete. Contudo consegui fazer um peão, claro em madeira cujo ferrão era a ponta de um prego, muito rudimentar mas conseguia fazê-lo rodar, e serviu para satisfazer a minha primeira invenção se assim se podia chamar. Como prémio o meu pai dado o meu entusiasmo, comprou-me um lindo, com o qual me divertia imenso, acabando mesmo por picar a casa, em especial a sala de entrada, dado o soalho ser em madeira.
Não ficando por aqui, aquele canivete passou a ser um objeto, que me acompanhava sempre, ao ponto que nas noites longas do Inverno, em que tínhamos esperar pelo pai para o jantar, que era cerca das 21 horas, hora que chegava, quando fazia a distribuição do correio da noite na Vila. Nestas longas esperas, junto à lareira, lá estava eu embelezando uns paus toscos que pouco a pouco iam ficando lisos e apresentavam, algumas figuras que ia comparando com animais ou coisas. Curiosamente ia juntando à entrada da porta da rua e por ali iam permanecendo, até que a boa da minha mãe, acabava por se cansar de os ver ou estorvavam as suas lidas, o destino era a fogueira, não valia reclamar, porque já tinham ardido. A boa resposta da mãe, agora faz outros que tens tempo para isso.
Estes episódios são recordados, talvez pela graça, que aquela criança de outrora, assemelha-se muito aos dias de hoje, em que é determinante as minhas ações, criando mesmo um sentimento dum verdadeiro vício, em que mal me esqueço de mim, lá estou na bricolagem.
Entrando para a o ensino secundário, não me foi difícil aperceber, que o desenho à vista, a utilização da tinta de china e os guachos, era tarefa fácil, criando mesmo um desenho do “Infante D. Henrique”, com aquele grande chapéu, tinha algum jeito que a minha irmã, o levou à escola e a professor lho pediu para concorrer a um concurso escolar, mas ao que acabei por saber foi em nome da filha da dita professora, mas nunca cheguei a saber se alguma vez, teve resposta ou ganhou um concurso.
Mas foi no desenho geométrico, que acabei por me realizar, ao ponto que nos dias de hoje, quase todas as figuras ou formas têm como principio ou base figuras geométricas. Neste contexto, existe mais uma achega que dum modo indireto contribuísse, para entender o que se passa no meu relacionamento com a madeira. Na minha infância, morava na mesma casa e com uma oficina na mesma, um primo de nome Mário Júnior, que era carpinteiro, e dado ser muito criança, talvez no meu imaginário algo ficou retido, porque em boa verdade, só me lembro de produtos acabados, e sobretudo a imagem de muitas ferramentas que mais tarde vi a saber os seus nomes.
Para completar o quadro, também tive um tio de nome Bernardino, este sim, um marceneiro de excelência, entre alguns trabalhos seus, convivi, com a mobília de sala da casa de Cascabaço, tinha sido o primeiro trabalho, depois de abandonar o mestre. O rigor do entalhe e a ausência de pregos, caracterizam a obra da qual me apaixonei, e a madeira em que foi feita é cerejeira. Já muito velhinha, e diga-se no dom da verdade, não muito estimada.
Com esta infância e já entrando na adolescência, não me será difícil dizer que recebi muito destes tempos, tanto pelo que me rodeava como pela minha forma de assimilar o que via sem recorrer a estudos obrigatórios.
Para um crente, também aqui deixo a mensagem, que sobre mim recai alguns espritos bons e que me acompanham, não querendo dizer que seja este ou aquele, mas diariamente sinto que só por mim não seria capaz de realizar tanto, nem tão pouco fosse capaz de estar acomodado num sofá à espera que o tempo passe. O próprio Jesus Cristo, foi carpinteiro.
Mas o destino está marcado, depois do meu pai que querer que eu aprendesse a arte de pedreiro, ao qual eu respondi; mas porque foi para carteiro? … A resposta chegou, não mais falando no assunto. Acabei por tirar o “Curso Geral do Comércio”, seguindo este área, a qual abracei com alegria fazendo uma carreira profissional, chegando ao topo como empregado por conta de outrem.
O meu encanto, não é; deixar de ser quem sou, mas ser uma nova realidade, olhando para as coisas, observando-as e valorizando-as, duma forma simples e humilde. Como que se volta-se a encontrar-me no tempo, em que a luz do mundo me dava a claridade para ver as coisas pelo dia efetivo e não pela globalidade, onde o sentido humano, está irremediavelmente perdido, fora da minha forma de estar e observar os valores, que me caracterizam! Os quais foram forjados com a dura escola do mundo rural; a enxada, a charrua, e a foice, foram estes alguns dos “livros “que tive, começaram na infância e passaram pela adolescência.
Estou a escrever este livro, e lembrei-me de ir publicando, alguns capitulos como vou escrevendo. Pode não ser do interesse geral, mas existe um grupo, que está atento-
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