Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa no dia 19 de Maio de 1890 e decidiu separar-se da vida no dia 26 de Abril de 1916, em Paris.
Foi poeta e ficcionista, um dos nomes mais relevantes do modernismo em Portugal.
Em 1911, matriculou-se na Faculdade de Direito, em Coimbra, mas desistiu alguns meses depois. Foi para Paris com a intenção de frequentar as aulas na Sorbonne, mas também por pouco tempo.
A sua incapacidade de adaptação social e psicologicamente inseguro, levaram-no a viver situações desesperantes.
No entanto, é entre 1912 e 1916, que escreveu a maior parte da sua obra poética. Durante esse período manteve correspondência assídua com o seu grande amigo e confidente Fernando Pessoa.
Com Pessoa, Almada Negreiros, Luís de Montalvor, Alfredo Guisado e Armando Cortes-Rodrigues, fundou a revista “Orfheu” que teve um papel essencial na renovação literária do século XX.
Apesar de ter uma curta produção literária, é considerado um dos maiores nomes da literatura portuguesa.
Da sua obra, destacam-se os livros: “Amizade”, “Princípio”, “Memórias de Paris”, “Dispersão”, “A Confissão de Lúcio”, “Céu em Fogo”, “Indícios de Oiro”.
Publicou muitos trabalhos literários nas revistas “Orfheu” e “Portugal Futurista”.
Em 1958 e 1959 as cartas dirigidas a Fernando Pessoa foram reunidas em dois volumes.
Nesta homenagem no dia do seu aniversário, o poema “Além-tédio”.
Além-tédio
Nada me expira já, nada me vive
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital…
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu… Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios…