Pum no Traque!

A ÁRVORE DAS PATACAS
O país de Tal foi fruto que nasceu na árvore das patacas, sua velha e carinhosa mãe, que teve o condão de nunca conseguir, ao longo de tantos e enfadonhos anos, fazer dele gente que se visse. Assim, enquanto os seus irmãos frutos, tomaram rumos diversos, ou a caminho das fábricas das compotas, ou dos mercados de produtos frescos, que prosperam no planeta das Tretas, situado lá para os confins do universo, aquele fruto por ali ficou, ali casou, gerou família, e todos juntos tiveram vida modesta e poucochinha, amparados no calor morno da velha mãe e avó. Até que, certo dia, a verdade do tempo falou alto, (a natureza tem destas coisas), e o fruto país de Tal tombou de maduro. No chão ficou desamparado. A competição com os outros frutos podres tornou-se intolerável. Impossibilitado de voltar para a segurança do galho, passou a pedir empréstimos em troca do seu sumo açucarado. O sumo foi-se. Depois a parte mais suculenta da sua polpa. Até que, por baixo da pele ressequida, apenas se vislumbrava o seu caroço, ainda ostentando umas farripas de chicha, por aqui e por ali. Então e em desespero de causa, o país de Tal mudou de rumo. Nomeou para líder do seu destino o grande partido dos Traques que, coligado com o pequeno partido dos traquinhos, conseguiu uma confortável maioria na sua inoperante assembleia constituinte. Nas boas graças dos Talquinhos, (cidadãos do país de Tal), o grande líder Traque, depois de estudados todos os dossiês da governação em conjunto com o seu estafe ministerial, (conhecido por os Seca Adegas), distribuídas as pastas pelos competentíssimos Seca Adegas, definidas as estratégias, estudadas até à exaustão todas as soluções, só faltava, em entrevista pública, falar ao Povo da boa nova, e em verdade dizer-lhe que ventos de mudança lhes seriam comunicados em Verdade…
A ENTREVISTA
E assim foi. O Grande Traque (imbuído da solenidade que o momento exige), falou aos Talquinhos. “Em verdade vos digo que no nosso seio não existe, neste difícil momento, lugar para os mais esclarecidos e competentes de vocês. Imigrem! Vão pelo mundo a pregar a boa nova! O país de Tal será grande logo que se liberte da crendice de que o Conhecimento trás bem-estar. Ficam os que podem, com o seu labor, criar condições para que um dia os que agora vão possam regressar. Vamos produzir os nossos bordados, as nossas rendas de Bilros e as outras, pescar as poucas sardinhas que nos restam, fabricar cuequitas e meias, vamos dar o pouco que nos resta em troca de novos empréstimos para que possamos, de cabeça erguida, ocupar de novo o lugar a que a nossa história nos obriga! Que os professores que agora e momentaneamente expulso, no estrangeiro, firmados no bom inglês que aprenderam nas nossas universidades, que estão entre as melhores deste velho continente, possam contribuir para nos erguer do chão, ensinando aos gentios de ontem a língua comum e a nossa cultura!
O DESFECHO
No Teatro que é a Vida, lá ao fundo, cozido na plateia repleta de Talquinhos empolgados e embasbacados, um velho operário, modesto de posses e de saberes, trancado entre a inoperância de uns e as baboseiras dos outros, farto, não falido de ideias mas sim manietado e apequenado por tanto, tão grande e erudito saber, a páginas tantas não resistiu mais. Ergueu-se e, de punho esquerdo cerrado, gritou bem alto: “Pum ao Traque!” Então, e perante o espanto geral, escutou-se um silvo não muito estridente, mas crescente de intensidade, e o grande líder começou a minguar, a perder volume, a esparramar-se pelo palanque. Sobreveio-lhe uma profunda comoção, (diagnosticada mais tarde no hospital), como diarreia cerebral, e o Grande Traque foi-se…

Sobre jsola02

quando me disseram que tinha de escrever uma apresentação, logo falar sobre mim, a coisa ficou feia. Falar sobre mim para dizer o quê? Que gosto de escrever, (dá-me paz, fico mais gente), que escrever é como respirar, comer ou dormir, é sinal que estou vivo e desperto? Mas a quem pode interessar saber coisas sobre um ilustre desconhecido? Qual é o interesse de conhecer uma vida igual a tantas outras, de um individuo, filho de uma família paupérrima, que nasceu para escrever, que aos catorze anos procurou um editor, que depois, muito mais tarde, publicou contos nos jornais diários da capital, entrevistas e pequenos artigos, que passou por todo o tipo de trabalho, como operário, como chefe de departamento técnico, e que, reformado, para continuar útil e activo, aos setenta anos recomeçou a escrever como se exercesse uma nova profissão. Parece-me que é pouco relevante. Mas, como escrever é exercer uma profissão tão útil como qualquer outra, desde que seja exercida com a honestidade de se dizer aquilo que se pensa, (penso que não há trabalhos superiores ou trabalhos inferiores, todos contribuem para o progresso e o bem estar do mundo), vou aceitar o desafio de me expor. Ficarei feliz se conseguir contribuir para que as pessoas pensem mais; ficarei feliz se me disserem o que pensam do que escrevo… José Solá
Esta entrada foi publicada em Sem categoria. ligação permanente.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.