AMÉLIA DA CONCEIÇÃO
Meu Amigo Desconhecido
Hoje escrevo-lhe com a mão a tremer de raiva e de horror.
Como é possível que no século XXI exista tanta guerra estúpida fomentada pelos interesses do dinheiro, do petróleo? Como se sentirão os pais dos militares que morrem às centenas naquelas terras desconhecidas do Iraque? Aquelas famílias devem estar de corações despedaçados. Como existem presidentes de grandes países, líderes mundiais da guerra, da morte, do sofrimento, capazes de ordenar o avanço de milhares de jovens para serem dizimados por explosões de bombas, tiros de gente criminosa? Fico tão triste que me pergunto se vale a pena viver num mundo minado de maldade e violência contra gente inocente.
Certamente não vou conseguir dormir esta noite. Aquelas imagens da guerra não me saem da cabeça.
Desculpe desabafar consigo, mas sinto-me triste e amargurada pelo sofrimento que estes actos causam no equilíbrio emocional das crianças, dos jovens e dos velhos como eu, que já não têm coração para ver e ouvir estas notícias. Vê porque desisti de ver telejornais? Mas hoje foi um caso excepcional.
Um beijo para o meu Amigo Desconhecido.
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Amélia,
Gosto de saber que continua com as suas leituras e a ouvir as músicas que a acompanham nos momentos mais solitários. Não tarda e vamos festejar o quinto ano da nossa correspondência. Nesse dia, já resolvi, vou escrever-lhe uma carta com cinco folhas. Uma por cada ano. Se ralhar comigo, eu mudo de ideias, acredite.
A Primavera está a chegar e que bonito ver os jardins floridos. Aproveite, Amélia, e passeie por entre as flores, nenhuma delas mais bonita que a Amélia.
Até amanhã.
( continua )
José Eduardo Taveira