“HISTÓRIAS DE PESSOAS QUE DECIDI DIVULGAR”

  EXTRACTOS DA HISTÓRIA Nº 11

 

O  coração  de  Emanuela Cante não palpita por ninguém em exclusividade. Acha os homens seres patetas que herdaram historicamente a primazia da superioridade. As mulheres patetinhas herdaram historicamente a primazia da inferioridade. As gerações vão repetindo, séculos após séculos, os mesmos erros, os mesmos conceitos estereotipados, a mesma estrutura mental.

 

Um dos exemplos que confirma a involução das mentalidades é o comportamento em relação ao corpo humano.

Para Descartes, “O corpo enquanto organismo é uma máquina porque é composto de vários aparelhos”. Para o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty “O corpo é o espelho de outro corpo”. No entanto continua a ser objecto de curiosidade patológica como se cada corpo fosse arcano na sua estética anatómica.

A vergonha, o falso pudor da nudez, o “voyeurismo” psicopático, é no século XXI um dos mais descarados retrocessos das mentalidades.

O poeta e pintor inglês William Blake declarou que “ A arte jamais poderia existir sem expor a beleza da nudez”.

        Na Idade Antiga, os romanos, incluindo os cristãos, homens e mulheres banhavam-se despidos nos banhos públicos. Na Grécia os desportistas não usavam roupa. Além dos Romanos e dos Gregos, também os Babilónios e Assírios foram os precursores do nudismo. E isto, na Idade Antiga! (…)

Emanuela não gosta de ser mulher, mas também não gostaria de ser homem. Pensa que há-de surgir, não sabe quando, uma nova concepção de vida que transformará a Humanidade. Ignora se para melhor ou pior do que a actual. Mas acredita que tudo será diferente.

Tendencialmente os dois sexos evoluirão para uma estandardização comportamental. Advirão novos conceitos em relação ao trabalho doméstico, à confecção dos alimentos, ao vestuário de utilização universal, à locomoção pessoal, aos meios inovadores de transporte, ao desempenho profissional altamente sofisticado, à estética, ao divertimento, à saúde, à cultura, etc. Surgirão uma nova génese humana e um novo meio ambiental em consequência da destruição criminosa do Planeta.

 

Emanuela Cante pensa que será o fim dos estereótipos comportamentais na sociedade. Homens e mulheres terão os mesmos direitos, os mesmos instrumentos de avaliação psicológica, a mesma capacidade de liderança, as mesmas possibilidades para atingir profissionalmente topos de carreira. A competitividade será feroz, não pela diferença de géneros, mas pela oferta incalculável de candidatos. E a tão proclamada desigualdade sexual será coisa pré-histórica.

 

As mulheres não estarão disponíveis para suportarem uma gravidez de nove meses. Terão objectivos profissionais e lúdicos que não lhe permitem esta perda de tempo e incomodidade pessoal. A reprodução clássica da espécie ficará para aqueles que ainda não entenderem a modernidade. A sociedade será desumanizada.

Os filhos serão adquiridos em “Bio-Shopsespecializadas na comercialização de corpos biocibernéticos, produzidos industrialmente em fábricas, a partir da descoberta do código do DNA. Catálogos digitais informarão sobre todos os produtos à venda, entre os quais se incluem a descrição das características disponíveis para escolha dos candidatos a progenitores. Assim têm a oportunidade de adquirirem o filho que ambicionam que ele seja quando for adulto e que corresponda aos seus interesses pessoais e de agregado social, dependendo apenas da capacidade financeira, para adquirir os que ofereçam no futuro as contrapartidas do investimento efectuado. Emanuela está preocupada com as consequências deste modelo de criação humana. (…)

Emanuela Cante tem o sonho de viver numa sociedade avançada, na qual a liberdade individual da diferença seja respeitada pela comunidade. É a utopia por uma civilização diferente, idealista e fantástica. Que não existe, nunca existirá, mas está nas suas entranhas, viva, forte, a revolucionar o seu ser inconformado. (…)

 Emanuela Cante quer ser ela própria, resistindo ao turbilhão de mentiras, vaidades, egoísmos, como se fosse um bastião protegido por grupos de andorinhas brancas, gozando o prazer da chegada da Primavera.

Gostaria de voar com elas pelos céus, feliz e deslumbrada, tal como nos sonhos das suas noites de poesia.

 JOSÉ EDUARDO TAVEIRA

 

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