“HISTÓRIAS DE PESSOAS QUE DECIDI DIVULGAR”

EXTRACTOS DA HISTÓRIA Nº 5

 

     

          Alice Rabuda é conhecida pelos amigos como a Alice“Cu Grande” o que lhe causa perturbações do foro psicológico. Todos lhe dizem que é uma brincadeira e um sinal de amizade e carinho, mas ela não gosta e considera-se permanentemente ofendida.

– Não se chama “Cu Grande” a ninguém, é uma falta de respeito. Pronto. Que raio de pouca sorte a minha ter um rabo grande! Ainda por cima num sítio do corpo que dá imenso nas vistas. (…)

(…) – Porque de resto, o meu corpo até é bem feito. Só o estupor do rabo é que me estraga a estética. Que hei-de eu fazer com este rabo? Fico furiosa quando chego ao restaurante e me dizem para esperar, porque só há uma mesa vaga. Que raiva! Apetece sentar-me em cima do empregado e esborrachá-lo. (…)

(…) – Quando me vêm entrar, as sirigaitas das “boutiques”  dizem logo, que não têm roupa para rabos deste tamanho. E eu pergunto-lhes: vocês por acaso, suas deficientes cerebrais, já se viram ao espelho? E para já não admito comentários sobre o meu rabo. Pronto. Cada um tem o rabo que tem, suas pirosas. (…)

(…) -E os estúpidos dos meus padrinhos ainda se deram ao desplante de me porem o nome de Alice Rabuda. Idiotas, mentecaptos, alienados, incongruentes, que não imaginaram os problemas que me viriam a causar. (…)

(…) – Ao meu irmão chamam-lhe cabeçudo porque tem uma cabeça do tamanho de um melão de vinte quilos? Não! À minha mãe chamam-lhe pencuda, porque tem um nariz que passa a vida entalado nas portas do armário da cozinha? Não! Ao meu pai chamam-lhe pezudo porque calça 64? Não! À minha prima chamam-lhe joelhuda porque tem uns joelhos do tamanho de abóboras? Não. E a outra chamam-lhe orelhuda porque tem umas orelhas que parecem antenas parabólicas? Não. À minha avó chamam-lhe bigodaça porque tem um bigode e um buço que parece um Guarda-nocturno do século dezanove? Não. Ao meu avô chamam-lhe barrigudo porque tem uma barriga maior que o meu rabo? Não. Então porque diabos me chamam “Cu grande”? Não tenho o direito de ter o rabo que Deus me deu? Acho que não há nenhuma lei da Comunidade Europeia para uniformizar o tamanho dos rabos, mas devia de haver. Tenho visto rabos horrorosos, mal feitos e encarquilhados. O meu rabo é lisinho e macio. Gasto nele toneladas de creme de beleza. Não me vou pôr aí de rabo ao léu a mostrá-lo a toda a gente. Às vezes até sinto orgulho no meu rabo, pronto. Sinto orgulho, porque é meu e funciona como qualquer outro rabo. (…)

(…) – Li noutro dia numa revista que o Sylvester Stallone é especialista em “rumpologia”, ou seja, a capacidade de prever o futuro das pessoas através do rabo. Mandei-lhe uma fotografia do meu rabo para ele ver qual seria o meu futuro. Quando recebi a resposta fiquei muito contente. Mas quando abri o envelope para ler o que vinha lá dentro, dei pulos de raiva contra aquele idiota do Stallone.(…)

(…) – É triste quando ficamos escravos do nosso rabo. (…)

(…) – Eu acho que o rabo não tem a importância que lhe querem dar, acho eu. Pronto. (…) (…) – Mas pensando bem, porque será eu me preocupo com aqueles que criticam o meu rabo? (…)

JOSÉ EDUARDO TAVEIRA

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