– NÃO POSSO DIZER ADEUS –
As folhas desfalcadas pela sinuosidade da ventania voavam preguiçosamente, como as penas leves e brancas dos pássaros, que acidentalmente se enganchavam nos galhos e
dispersavam as coloridas penugens. Levemente uma folha seca roçou nas minhas pestanas e com delicadeza a devolvi à natureza.
Uma borboleta cor de bonina, deteve-se para me retirar da minha total insensibilidade às retratadas minúcias imprescindíveis, à beleza da vida.
Levantei o olhar a passos leves, como se devagar subisse os degraus de uma escada. Tentei de maneira amigável desculpar-me com as ternas oferendas que se nos dá o
ambiente versátil e surreal dos campos sortidos de velhas árvores.
Árvores, mães oculares de grandes histórias e de copas e troncos já curvados pelo desgaste dos anos.
Aos poucos, entreguei-me à quietude impregnada daquele lugar.
Dentro de mim havia uma demanda de cantigas similares, acontecidas em tempos de outrora. Sentia-as plenamente e percebia até mesmo a sua cor. Era um tom verde
e que inseria no meu apetite um gosto a limão. E fazia-me degustar uma limonada que cheirava a cravo envolvido no mel.
Um som tocava serenamente os meus ouvidos, e aquela música fazia-me bem à alma.
Porque sim, era-me devido ser presenteada com “Fallaste Corazón”, ao som da Brasilian Tropical Orchestra.
Senti-me leve, pura, nada tinha a oferecer. Senti-me nua, vazia, apenas restava a minha alma que soluçava desconsoladamente um choro convulsivo.
O meu espírito mergulhava nas águas mansas de um rio imaginário.
Rio em estado arquejante e febril, de tanto escutar e ocultar confissões queixosas e tristes de sonhos interrompidos, talvez pela presença marcante do destino.
Sobre o tronco de uma árvore, caída no chão, sentei-me, e cada parte do meu corpo repelia o azul sistêmico no ar, pois ele confundia-me com aquilo que é, ou deverá ser.
Eis-me, portanto, confusa, mais emotiva que racional.
Pensei: “Será pois, o momento certo?”
Não, não estou ainda preparada para me ir embora.
Por isso:
Ainda Não Posso Dizer ADEUS!
(Do livro “Histórias vividas em prosa”, de Marifelix Saldanha)


