A águia tossiu para que o leopardo reparasse na sua presença.
O leopardo sabia muito bem que a detective fora introduzida no gabinete há mais de um quarto de hora; mas não quisera quebrar a própria meditação, por um lado. Por outro, fazer esperar, como se não se tivesse apercebido da visitante, era parte do teatro do poder. Assim, sentiam sempre que era ele, Sua Alteza, quem iniciava a conversa. Quem «comandava» a conversa.
A tossidela da águia não estava prevista. Olhou-a, severamente, como se o incomodasse que lhe interrompessem e dispersassem as ideias.
«Mandou-me chamar?», perguntou timidamente a águia.
«Sim», respondeu o leopardo, lembrando-se de que precisava da águia. Era o rei – mas estava disposto, por uma vez, a depender de outrem. Porque sabia que o iam matar – havia já quem o desse por morto: só não sabia quem o mataria. E, portanto, ia pôr-se nas mãos (ou nas asas, ou na astúcia) da águia, a maior detective do planeta.